O festival de comédia de Riade, na Arábia Saudita, está no centro da controvérsia esta semana, gerando críticas de diversos comediantes norte-americanos e da Human Rights Watch. O evento, que ocorre entre os dias 26 de setembro e 9 de outubro, conta com a participação de nomes como Pete Davidson e Bill Burr, mas é acusado de “limpar” as violações de direitos humanos no país, especialmente à luz do sétimo aniversário do brutal assassinato do jornalista Jamal Khashoggi.
Críticas à falta de ação em relação aos direitos humanos
Em um comunicado emitido no dia 23 de setembro, Joey Shea, pesquisador da Human Rights Watch, afirmou que “comediantes que aceitam somas exorbitantes de dinheiro de autoridades sauditas não devem permanecer em silêncio sobre questões proibidas, como direitos humanos e liberdade de expressão”. Shea enfatizou que todos os artistas que se apresentarem em Riade devem usar aquela plataforma para exigir a liberação de ativistas detidos injustamente.
A repercussão negativa é evidente, com vários comediantes expressando suas opiniões publicamente. “O aniversário do assassinato de Khashoggi não é um motivo de risadas. Aqueles que se apresentam lá estão, de maneira indireta, endossando um regime que persegue dissidentes e jornalistas”, comentou Shea.
A participação controversa de comediantes americanos
O line-up do festival inclui figuras proeminentes do stand-up, como Aziz Ansari, Dave Chappelle e Tom Segura. Em entrevista ao podcast “This Past Weekend”, Davidson defendeu sua decisão de se apresentar, afirmando que as pessoas o criticam devido à perda de seu pai durante os ataques de 11 de setembro. “Eles dizem: ‘Como você pode ir lá?’ Mas o número que me foi oferecido me fez decidir ir”, explicou Davidson.
Marc Maron, outro comediante conhecido, fez críticas contundentes a colegas que decidiram participar. Durante uma apresentação, ele se referiu aos laços alegados do príncipe saudita com o financiamento do terrorismo, mencionando o crime horrendo contra Khashoggi e lançando uma ironia mordaz sobre o evento.
“Como você pode promover isso? ‘Daqueles que trouxeram o 11 de setembro. Duas semanas de risadas no deserto, não perca!’ O mesmo cara que está pagando isso é o mesmo que pagou para que Khashoggi fosse desmembrado”, acrescentou Maron.
Respostas de outros comediantes
O clima de insatisfação entre certos comediantes é palpável. Atsuko Okatsuka compartilhou uma carta de proposta que recebeu, evidenciando regras de censura que limitam o que poderia ser dito no palco, enfatizando que os comediantes não poderiam “denegrir” a família real saudita ou o governo. “O dinheiro vem diretamente do príncipe herdeiro, que executa jornalistas”, denunciou
Shane Gillis também se manifestou, afirmando que rejeitou a oferta de se apresentar por não concordar com a ligação do evento aos ataques de 11 de setembro. Segundo Gillis, mesmo após ter recusado a proposta, o festival aumentou a quantia oferecida para atraí-lo, mas ele permaneceu firme em sua decisão.
Contexto de repressão aos direitos humanos na Arábia Saudita
A Human Rights Watch tem sido uma voz crítica em relação aos direitos humanos na Arábia Saudita, especialmente no que diz respeito à repressão à liberdade de expressão. No dia 19 de setembro, a organização contatou os representantes de vários comediantes convocados para o festival, pedindo uma reunião sobre a crise de direitos humanos no país, mas não obteve resposta.
Diante desse cenário, a história do festival de comédia em Riade pode ser vista como uma oportunidade para os envolvidos se posicionarem contra as violações de direitos humanos, ou, alternativamente, como uma forma de endossar um regime que busca limpar sua imagem internacional.
Conforme declarou Shea, “os comediantes que se apresentarem em Riade devem falar contra os abusos graves de direitos na Arábia Saudita, ou correm o risco de apoiar os esforços bem financiados do governo saudita para lavar sua imagem”, enfatizando a dicotomia entre o riso e a realidade dura enfrentada por muitos no país.