Quando sua esposa foi diagnosticada com câncer, Reid Wiseman estava disposto a abandonar sua carreira dos sonhos como astronauta e se mudar para o outro lado do país, perto da família dela. No entanto, Carroll Wiseman insistiu para que ele e suas duas filhas permanecessem em Houston, Texas, recusando-se a deixar que ele colocasse sua vida em espera, mesmo enquanto a dela estava se esvaindo.
Cinco anos após a morte dela, aos 46 anos, Wiseman está cumprindo o desejo da esposa de continuar alcançando novas alturas — liderando o retorno da humanidade à Lua como comandante da missão Artemis II, liderada pela Nasa.
“Quando a Carroll começou a ficar doente, eu queria levá-la de volta para a Virgínia, perto da família dela, e ela disse: ‘Não, não vamos sair. Nossas crianças não vão deixar a escola e seus amigos, e você não vai deixar este trabalho pelo qual lutou toda a sua vida’”, disse Wiseman.
Após o falecimento de Carroll, Wiseman observou sua família enviar mensagens de apoio à sua nova jornada, como fotos da Lua, mostrando orgulho pelo legado que ele carrega. “Honro-a a cada dia, a cada minuto”, afirmou. A missão Artemis tem como objetivo estabelecer uma presença humana de longo prazo na Lua, funcionando como um trampolim para a exploração de Marte.
Missão Artemis II: um passo histórico
A Artemis II levará uma tripulação à Lua no próximo ano, marcando o primeiro voo tripulado desde o fim do programa Apollo, há 53 anos. Wiseman, junto com seus colegas da Nasa, Victor Glover e Christina Koch, e o astronauta da agência espacial canadense Jeremy Hansen, passarão dez dias a bordo da espaçonave Orion, que será lançada pelo foguete SLS da Nasa.
Durante a missão, a equipe testará as qualidades de manuseio da espaçonave, sistemas de suporte à vida, capacidades de comunicação e navegação, além de realizar uma passagem pela Lua no sexto dia e cumprir um cronograma científico completo.
Recentemente, a Nasa anunciou que a missão poderá ser lançada já em fevereiro do próximo ano, dois meses antes do que se previa. A missão subsequente, Artemis III, pretende colocar uma tripulação na superfície lunar em 2027, embora o módulo de pouso desenvolvido pela SpaceX ainda esteja em fase de finalização e a China esteja avançando rapidamente em suas próprias ambições lunares.
Jim Bridenstine, ex-chefe da Nasa, alertou a um comitê do congresso que é “altamente improvável” que os EUA e seus parceiros internacionais consigam superar a China “a menos que algo mude”. No entanto, o chefe interino da Nasa, Sean Duffy, afirmou que “não vamos escrever essa história” e que a agência está determinada a vencer a segunda corrida espacial.
A equipe da Artemis II enfatiza a colaboração internacional envolvida na missão. “Nós apenas vamos buscar a excelência. É assim que você vence uma corrida espacial e como você avança nossos países. Mais importante, é como você cria um ambiente que pode encorajar outros a colaborar”, disse Glover.
Selecionados para a missão em 2022, os membros da equipe treinaram intensamente por dois anos e meio, tornando-se uma verdadeira família com confiança mútua na equipe. Durante o voo, ao contornarem o lado oculto da Lua, eles perderão comunicação com o controle da missão por 45 minutos, isolados da Terra.
Uma jornada de autodescoberta e compromisso
“Eu gostaria que todo o mundo, essas oito bilhões de pessoas, pudesse se unir e torcer por nós para conseguirmos restabelecer o sinal e voltarmos a comunicar com todos”, disse Glover, refletindo sobre a experiência única que enfrentarão juntos. “Se pudéssemos ser um só por um momento, isso nos lembraria que podemos fazer coisas desafiadoras quando trabalhamos juntos.”
A equipe ensaiou repetidamente em um simulador de cockpit, onde experimentaram uma série de cenários desafiadores e imprevistos, comparáveis ao que ocorreu com a missão Apollo 13. Wiseman conta que, entre os desafios, é preciso manter a calma e encontrar soluções criativas para retornar para casa.
Ambos, Wiseman e Glover, são pilotos de testes da Marinha, enquanto Koch é conhecida por ser uma engenheira excepcional, com um recorde de 328 dias em voo espacial. Hansen, por sua vez, é o único membro da equipe que ainda não voou no espaço.
Com suas filhas, Ellie e Katherine, mais velhas desde a morte da mãe, Wiseman confessa que elas têm reservas sobre sua jornada à Lua. “É uma missão realmente arriscada, e isso pesa bastante em mim. Elas prefeririam que eu não fosse, mas não posso desistir do que significa tanto para mim porque isso significará mais para elas que eu continue a seguir meus sonhos”, explicou.
Wiseman se volta para a leitura para enfrentar os desafios pessoais e profissionais, priorizando um foco em como ser um bom pai. Ele reflete sobre um conselho do piloto do módulo lunar da Apollo 12, Alan Bean, que afirmou que leu mil livros sobre como voar, mas nenhum sobre como ser pai. “Isso me impactou. Tentei priorizar a leitura sobre como criar minhas filhas”, completou.
Ele percebe que, apesar da impassibilidade típica da adolescência, há sinais de orgulho que suas filhas demonstram. “Eu posso ver isso de vez em quando, quando converso com seus amigos ou recebo uma nota de um professor. Você não vê isso na superfície com frequência, mas eu sei que está lá”, concluiu.