A reflexão sobre a riqueza e a solidariedade, apresentada na liturgia deste domingo, nos convida a mergulhar na profundidade da parábola do rico e de Lázaro. Através dessa narrativa, Jesus nos ensina sobre a urgência de olharmos para os menos favorecidos e questionarmos nosso lugar na sociedade, onde a desigualdade impera. A Palavra de Deus é a única força capaz de mudar o coração encerrado em si mesmo, revelando o poder transformador do amor e da compaixão.
A sociedade do lucro e da opressão
No contexto da primeira leitura, encontramos a crítica do profeta Amós aos nobres de Samaria, que desfrutavam das conquistas militares e se esqueciam do sofrimento dos pobres. A mensagem de Amós é clara: o Dia de Javé não será uma celebração para os poderosos, mas um dia de juízo. O profeta alerta para a ruína da cidade e do exílio de seu povo. Ele destaca que a riqueza adquirida à custa dos mais vulneráveis traz consequências graves.
Essa reflexão nos faz interpelar: será que não há em nós o desejo de obter uma vida semelhante à dos ricos? Muitos se lançam em caminhos obscuros, vendendo o que têm, até mesmo a dignidade, para alcançar um patamar de privilégios. Essa busca desmedida leva à corrupção e ao vazio de valores importantes.
A parábola que nos confronta
No Evangelho, Jesus apresenta a parábola do rico e de Lázaro, onde o rico, sem nome, simboliza a opulência e a indiferença. Ele se banqueteia diariamente, enquanto Lázaro, um mendigo, está à sua porta, desejando ao menos um pouco do que cai de sua mesa. A figura de Lázaro, que sofre ao lado do luxo, nos faz refletir sobre a invisibilidade de muitos que habitam nossas cidades.
Atualmente, a dificuldade em enxergar a necessidade do outro é um problema que se agrava. O rico, ao morrer, se vê em um abismo que criou ao longo de sua vida: ele desconheceu o valor do outro. Por outro lado, Lázaro é acolhido por Deus, simbolizando a vitória do amor sobre a injustiça. A morte se torna uma transição onde os papéis se invertem e o que parecia perdido agora é exaltado.
Consequências da insensibilidade
A parábola é um chamado à consciência: a indiferença do rico traz consequências dolorosas. Ele clama por água, pedindo ajuda a Lázaro, mas a barreira criada por suas ações é intransponível. Essa imagem poderosa nos oferece uma lição sobre a importância da empatia e da solidariedade. Não podemos fechar os olhos ao sofrimento alheio.
Um detalhe crucial da narrativa é o diálogo entre Abraão e o rico, onde o rico se dá conta de não estar sozinho em sua ganância. Outros também sucumbiram a essa vida de excessos e egoísmo. A responsabilidade é coletiva, e não apenas pessoal. O chamado à conversão está expresso na súplica feita pelo rico em prol de seus irmãos. Ele deseja que Lázaro vá até eles avisar sobre a realidade do sofrimento eterno.
O poder da Palavra de Deus
Por fim, a resposta de Abraão é incisiva: já existem os ensinamentos de Moisés e dos profetas. Essa é uma mensagem poderosa, que nos mostra que a verdadeira mudança não vem de fenômenos extraordinários, mas sim da aceitação e prática da Palavra de Deus. O amor ao próximo, a partilha e a justiça são os pilares que podem transformar a sociedade. É a partir desses conceitos que encontramos o sentido de vida que combate a cultura da morte.
Portanto, é necessário abrir os corações para ouvir a voz de Deus, que clama por justiça e compaixão. A Palavra tem o poder de transformar, de ensinar, e é ela que deve guiar nossas ações. Em um mundo com tantas desigualdades, é urgente que sejamos instrumentos da paz e da solidariedade, promovendo a dignidade de cada ser humano.
Assim, ao refletirmos sobre a parábola do rico e Lázaro, somos convocados a rever nossas atitudes e a reconhecer a importância de servir ao próximo, especialmente àqueles que estão à margem da sociedade. A verdadeira riqueza está em dar voz aos que não têm, em ser instrumentos de mudança e em viver a solidariedade de maneira concreta.
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