O economista americano Kenneth Rogoff, professor da Universidade Harvard e ex-economista-chefe do FMI, alertou nesta semana que os países desenvolvidos, especialmente os Estados Unidos e a Europa, podem enfrentar uma crise fiscal nos próximos quatro ou cinco anos. A previsão leva em conta o cenário de dívidas públicas elevadas, taxas de juros mais altas e instabilidade política, especialmente com o impacto das ações do ex-presidente Donald Trump.
Risco de crise fiscal global com taxas de juros mais altas
Segundo Rogoff, o aumento da dívida pública aliado às taxas de juros de curto prazo mais elevadas do que as de longo prazo cria um cenário de vulnerabilidade financeira. “Vejo um mundo com maior volatilidade na taxa de câmbio, nas taxas de juros e no crescimento econômico, mesmo que atualmente tudo pareça mais estável”, disse em entrevista ao GLOBO.
Fatores que podem agravar a crise nos EUA e na Europa
Impacto das políticas de Trump e o aumento dos gastos públicos
Rogoff destacou que o estilo populista de Donald Trump, aliado às promessas de redução de impostos e aumento dos gastos militares, pode aprofundar o problema fiscal dos Estados Unidos. Ele ressalta que o país vem tentando, de várias formas, manter a dominância fiscal, incluindo tentativas de controle do Federal Reserve para manter as taxas de juros baixas, o que contribuiria para a elevação da dívida pública.
“Trump busca tomar o controle do Fed para que as taxas de juros permaneçam baixas e a economia continue em alta, mas essa estratégia tem riscos de longo prazo, como inflação e instabilidade financeira”, explicou Rogoff.
Crises no setor cripto e riscos adicionais
Embora Rogoff não veja uma repetição exata da crise financeira de 2008, ele acredita que o mercado de criptomoedas poderá vivenciar uma crise nos próximos anos. “A desregulamentação excessiva pode levar a uma crise bancária no mundo das criptomoedas, que hoje se tornaram mais relevantes e integradas à economia real”, observou.
Resiliência de países emergentes e cenário global
O especialista apontou que países como China, Índia e Brasil fortaleceram suas reservas internacionais após crises anteriores, o que confere maior resiliência para resistir a possíveis turbulências globais. Ainda assim, alerta que uma crise nos EUA ou na Europa pode causar impacto severo ao crescimento mundial.
Rogoff sugere que, após essa eventual crise, o sistema financeiro internacional será mais multipolar, com menor participação do dólar nas reservas globais e uma maior presença de moedas como o yuan e o euro. Além disso, as criptomoedas podem ganhar espaço na economia subterrânea, refletindo a crescente influência do setor cripto.
Implicações da geopolítica e das tensões comerciais
Ele também comentou sobre a guerra tarifária promovida pelos EUA e seu efeito na relação com países como o Brasil, destacando o impacto prejudicial da sobretaxa imposta pelo governo americano. “Isso força os países a buscarem novos parceiros e afasta a ideia de que os EUA tenham controle absoluto sobre questões comerciais e políticas”, afirmou Rogoff.
Por fim, o economista reforçou que, enquanto as políticas populistas funcionam em curto prazo, elas não evitam o agravamento dos problemas fiscais, podendo levar a uma maior volatilidade do mercado e a taxas de juros mais altas no futuro.