Apenas um dia após suas ações despencarem na Bolsa após obter uma liminar que a protege contra credores, a Ambipar está considerando iniciar um processo de recuperação judicial tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. A decisão ocorre diante da complexidade de suas dívidas, que incluem garantias e passivos contraídos em ambos os países, especialmente nos Estados Unidos, onde parte considerável de suas obrigações está registrada.
Crise financeira e reestruturação em avaliação
Segundo fontes próximas à companhia, a possibilidade de pedir recuperação judicial nos EUA envolve o uso do Chapter 11, mecanismo equivalente ao processo brasileiro, ou o Chapter 15, que permite a tramitação paralela em ambos os países. A empresa está analisando detalhadamente qual das opções melhor atende às suas necessidades, em função do impacto financeiro causado pela desvalorização de títulos emitidos no exterior e dívidas com bancos brasileiros.
Decisão deve ser comunicada em até 30 dias
O grupo, que reúne cerca de 280 empresas e emprega aproximadamente 23 mil funcionários em 41 países, pretende apresentar um pedido formal de recuperação à Justiça brasileira em até 30 dias. A avaliação inclui a análise de documentos para identificar os negócios que precisarão de proteção de caixa via esse procedimento. Segundo fontes, a estratégia visa salvar a saúde financeira do grupo e evitar a crise mais profunda até então enfrentada.
Impasses na gestão e problemas com garantias
Uma auditoria interna está sendo conduzida para investigar irregularidades na gestão, especialmente relacionadas a um aditivo contratual assinado por um ex-executivo sem a aprovação do Conselho de Administração. O contrato, que envolve um empréstimo de US$ 35 milhões junto ao Deutsche Bank fechado no último dia 18, estaria vinculado a cláusulas de vencimento cruzado e títulos de green bonds emitidos no exterior, que já acumularam uma desvalorização de 77% só em setembro.
Impacto na Bolsa e classificação de risco
Apesar do cenário de crise, as ações da Ambipar tiveram uma recuperação expressiva ontem, subindo 18% e atingindo R$ 8,85, após a notícia de uma liminar de suspensão de pagamentos de dívidas. Ainda assim, a agência de classificação de risco S&P rebaixou a nota de crédito da empresa para o grau de inadimplência (‘default’), refletindo a vulnerabilidade financeira do grupo.
Repercussões e próximas etapas
O grupo também está lidando com a possibilidade de cobrança imediata de dívidas por parte de credores, incluindo o Deutsche Bank, que teria exigido garantias vinculadas ao empréstimo, além de possíveis ações cíveis e criminais contra envolvidos na assinatura do contrato de forma irregular. A investigação atualmente é interna, mas uma auditoria independente deve ser contratada para aprofundar as apurações.
De acordo com pessoas próximas à empresa, a Ambipar estuda junto a advogados se a situação justifica uma recuperação judicial nos Estados Unidos, além do Brasil, em um movimento de proteção aos seus ativos e negócios internacionais. Uma decisão definitiva deve ser tomada nos próximos dias, com o prazo máximo de 30 dias para o pedido formal.
Procuradas, a Ambipar e o Deutsche Bank não comentaram oficialmente o caso. Caso seja comprovada alguma irregularidade na assinatura do contrato, a empresa deverá procurar responsabilizar civil e criminalmente os envolvidos, conforme indicam fontes próximas às discussões.
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