Durante uma conversa com jornalistas, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, abordou a atual tensão política no Brasil e os complicados julgamentos envolvendo a tentativa de golpe que culminou na condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro. Com sua saída do comando do Judiciário marcada para a próxima segunda-feira, Barroso mencionou que seu desejo de promover a pacificação no país não foi totalmente alcançado, citando que “quem teme ser preso não quer pacificação”.
Os desafios da presidência do STF
No encontro, o ministro destacou que os julgamentos relacionados aos eventos de 8 de janeiro e a ampla gama de processos judiciais dificultaram a criação de um ambiente de pacificação total no Brasil. Barroso compartilhou sua frustração por não ter conseguido avançar nesse objetivo durante seus dois anos à frente do Supremo. “Eu queria ter um país mais pacificado”, expressou, refletindo sobre a persistência de “núcleos raivosos” na sociedade brasileira.
Barroso apontou que a situação política ainda é marcada por ressentimentos e polarizações, e expressou a esperança de que, após o julgamento de todos os envolvidos na trama golpista, o Brasil comece a experimentar um processo de cicatrização. “Acredito que o país vai se pacificar progressivamente”, afirmou, ressaltando que a ‘ferida’ política começará a cicatrizar após a conclusão dos julgamentos.
Próximos passos judiciais
Atualmente, além do julgamento de Jair Bolsonaro, existem três ações penais em andamento que envolvem outras pessoas supostamente ligadas à tentativa de golpe. Uma dessas ações, relativa a um grupo responsável pela disseminação de desinformação, está agendada para julgamento em outubro. A expectativa é que as demais ações sejam avaliadas até o final do ano, incluindo as que tratam da gestão das ações golpistas e o papel das forças de segurança.
Barroso também abordou a inação do STF em relação a sanções que foram impostas a alguns de seus ministros, como a Lei Magnitsky. O ministro revelou que a Corte preferiu aguardar o término dos julgamentos antes de considerar qualquer medida adicional. “Acho que a ideia predominante é esperar acabar o julgamento para pensar em qualquer eventual medida, seja política ou até judicial”.
Preocupações sobre a política e o extremismo
O presidente do STF expressou preocupações sobre o uso do impeachment de ministros como uma ferramenta política e ressaltou a importância da civilidade nas relações eleitorais. “Não tenho problema com vitória de conservadores, mas sim com extremismo e intolerância”, afirmou, emitindo um alerta sobre a dinâmica política que pode ameaçar a integridade do Judiciário.
Barroso enfatizou que a lógica de um processo eleitoral que busca impeachment de ministros do Supremo é prejudicial e precisa ser reconsiderada. “Isso me preocupa muito”, disse, sublinhando que a democracia deve ser fortalecida, não corroída por divisões extremas.
Rumores sobre aposentadoria e futuro no STF
À medida que se aproxima o fim de sua presidência, Barroso desmentiu rumores de que deixaria o STF em breve. Ele confirmou que não está pensando em sua aposentadoria imediata e que pretende continuar seu trabalho na Segunda Turma da Corte, a qual ele nunca integrou até agora. “Não estou pensando em deixar o Supremo prontamente, muito menos deixar o Brasil”, afirmou.
Barroso concluiu seu discurso com um olhar esperançoso para o futuro, afirmando sua expectativa de que as tensões políticas e sociais do país possam ser abordadas de maneira diplomática e que as conversas com os líderes políticos, incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, possam abrir novos caminhos para a paz e a compreensão no Brasil.
Com uma visão de futuro, Barroso ainda acredita na possibilidade de desescalar as tensões políticas existentes e na construção de um ambiente mais pacífico e civilizado, que promova o diálogo e a conciliação.