A preocupação com a origem dos produtos que consumimos tem crescido nos últimos anos, e uma nova tecnologia está permitindo que os consumidores façam um verdadeiro “raio-X” das roupas que vestem. O programa Sou ABR, fruto de uma iniciativa da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), está transformando a forma como o algodão cultivado na Bahia é rastreado, trazendo mais transparência e responsabilidade ao setor. Desde sua criação em 2021, o programa não apenas aprimorou a rastreabilidade do algodão, mas também promove um consumo mais consciente.
Rastreabilidade do algodão baiano
O programa Sou ABR possibilita que, ao escanear um QR Code presente nas etiquetas de roupas, o cliente descubra não apenas qual fazenda produziu o algodão, mas também todo o trajeto que a fibra fez antes de chegar às prateleiras das lojas. Essa rastreabilidade já é utilizada por marcas renomadas, como Calvin Klein e C&A, que oferecem calças com a etiqueta “Sou ABR”. Com isso, os consumidores podem rastrear até 20 fazendas diferentes, a maioria delas localizadas na Bahia.
O papel das fazendas na produção do algodão
As fazendas que fazem parte deste programa estão situadas em regiões conhecidas pela cultura do algodão, como São Desidério, Jaborandi e Luís Eduardo Magalhães. O principal objetivo dessa tecnologia é assegurar que o algodão adquirido foi produzido de maneira ética e sustentável, sem mão de obra infantil, e que respeita as boas práticas ambientais, segundo Silmara Ferraresi, gestora do movimento Sou Algodão.
A análise do algodão e sua importância
A qualidade do algodão é um fator determinante para a sua utilização na indústria têxtil. Na Bahia, essa avaliação é realizada no Centro de Análise de Fibras da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), que é considerado o maior laboratório do ramo na América Latina. Com 34 mil amostras analisadas diariamente, o centro fornece dados cruciais que ajudam os produtores a entender o potencial de suas safras e a indústria a selecionar as fibras de acordo com suas necessidades específicas.
Dentre os critérios avaliados estão o comprimento, a finura e a resistência da fibra, características que impactam diretamente na qualidade e no tipo de produto a ser fabricado. Por exemplo, o algodão destinado à fabricação de calças jeans requer fibras mais resistentes do que aquele utilizado para camisas.
O impacto econômico da produção de algodão
O algodão baiano não é apenas uma importante matéria-prima para o mercado nacional, mas também uma commodity que tem ganhado destaque no exterior. Entre 2024 e 2025, o estado exportou mais de 470 mil toneladas de algodão, com os principais destinos sendo países como China, Paquistão e Vietnã. Esse sucesso nas exportações deve-se à qualidade reconhecida do algodão brasileiro, que se tornou um dos líderes no mercado global, superando até mesmo os Estados Unidos.
A presidente da Abapa, Alessandra Zanotto, destaca que a espessura, o comprimento e a resistência da fibra brasileira atendem perfeitamente às exigências da indústria têxtil. Além disso, o aumento nas exportações traz consigo um impacto positivo na economia, gerando mais empregos e oportunidades para muitos trabalhadores na cadeia produtiva do algodão.
Expectativas para o futuro
O crescimento da produção e exportação de algodão na Bahia promete continuar. A 9ª edição da Missão Compradores, promovida pela Abrapa, já sinaliza novas oportunidades, com a presença de representantes de importantes mercados globais. Especialistas acreditam que a irrigação e inovação nas técnicas agrícolas podem aumentar ainda mais a produção, o que resultará em um maior volume de exportações nos próximos anos.
Assim, o programa Sou ABR representa não apenas um avanço tecnológico, mas também uma verdadeira transformação na forma como os consumidores percebem e se conectam com o produto que compram, promovendo uma consciência coletiva sobre o consumo responsável e sustentável.