A última sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do INSS gerou uma onda de controvérsias e tensões quando o empresário Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, foi ouvido. Acusado de ser um dos principais operadores de fraudes e desvios no sistema previdenciário, Antunes está preso preventivamente desde o dia 12 e afirma que as acusações contra ele são baseadas em mentiras. O clima da audiência foi marcado por bate-bocas, pedidos de prisão e discussões acaloradas entre os integrantes da CPI.
A audiência e suas polêmicas
Antunes chegou à sessão da CPI na última segunda-feira, protegido por uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que lhe permitia permanecer em silêncio em resposta às perguntas feitas pelo relator da CPI, o deputado Alfredo Gaspar (União-AL). No entanto, Antunes se manifestou sobre sua situação, refutando as críticas do relator.
— Em depoimentos anteriores, o relator disse que eu era um ladrão, o que mostra que é tendencioso. Por isso, não o responderei — afirmou o empresário durante a sessão.
Essa declaração desencadeou uma troca acalorada de palavras entre o relator e o advogado de Antunes, levando a uma suspensão da sessão em menos de 15 minutos após seu início. A tensão aumentou quando Gaspar reiterou sua acusação, chamando Antunes de “maior ladrão dos aposentados e pensionistas desse país”. O advogado do empresário, Kleber Lopes, reagiu ao que considerou uma falta de respeito, ameaçando retirar seu cliente da CPI se o tom das palavras continuasse nesse nível.
Acusações e defesa de Antunes
Antunes aproveitou a oportunidade para se defender, alegando que desde o início atuou de forma legal e transparente, mantendo seus endereços atualizados e se mostrando disposto a colaborar com as investigações. Ele negou as irregularidades mencionadas e defendeu sua inocência.
— Sou o maior interessado em esclarecer os fatos. O indivíduo com o qual mantive relações comerciais espalhou uma série de inverdades. As premissas que fundamentaram minha prisão são equivocadas. Sou um empreendedor nato e não tenho relação com governos, seja ele municipal, estadual ou federal — destacou Antunes.
Em outra parte da audiência, Gaspar indagou Antunes sobre o “padrinho político” que o teria ajudado a alcançar a posição em que estava no INSS, insinuando conexões políticas que poderiam ter facilitado sua ascensão.
Denúncias e novos desdobramentos
Além das acusações pessoais, o relator apresentou uma denúncia de ameaça feita por um ex-funcionário de Antunes à Polícia Civil de São Paulo. Segundo o boletim de ocorrência, o acusado teria exigido a devolução de materiais que continham informações sigilosas, levando a uma briga e uma suposta ameaça de morte. Os investigadores usaram essa denúncia para fundamentar o pedido de prisão de Antunes, que se defendeu afirmando ser alvo de extorsão.
Quebra de sigilo e prisão de outros envolvidos
Na mesma sessão da CPI, foram aprovados requerimentos para a quebra de sigilo bancário do advogado Nelson Willians, que é visto como um operador das fraudes no INSS. Willians, que já foi alvo de operações da Polícia Federal, está sendo investigado e nega qualquer envolvimento em irregularidades. A CPI já aprovou mais de 20 pedidos de prisão preventiva, mas o cumprimento desses esbarra nas decisões judiciais.
A defesa de Willians afirmou estar disposta a cooperar com as investigações e que aguardará o trâmite com serenidade. O clima de tensão e as acusações trocadas na CPI refletem a gravidade da situação enfrentada pelo sistema previdenciário no Brasil, que lida com fraudes e desvios que comprometem sua sustentabilidade.
Em resumo, a sessão da CPI do INSS não apenas expôs as desavenças entre parlamentares e testemunhas, mas também levantou questões sobre a integridade do sistema previdenciário e as dificuldades enfrentadas por aqueles que tentam reformá-lo.