O governo da Argentina voltou a cobrar as alíquotas de direitos de exportação sobre grãos, após atingir a meta de arrecadação de US$ 7 bilhões estabelecida pelo decreto 682/2025. Segundo a Agência de Arrecadação e Controle Aduaneiro (ARCA), em apenas três dias, o limite foi alcançado, e as empresas exportadoras deverão retomar o pagamento dos tributos anteriores, como soja a 26%, trigo a 12% e milho a 9,5%.
Retorno às tarifas e impacto no mercado de grãos
A suspensão de tributos às exportações de grãos, que inicialmente deveria vigorar até 31 de outubro, tinha como objetivo fortalecer as reservas do Banco Central e incentivar o ingresso de dólares no país. Com a meta atingida, a medida foi encerrada nesta quinta-feira (25), e as DJVEs (Declarações Juradas de Venda ao Exterior) retornaram ao esquema anterior, conforme informou a ARCA. “A ARCA informa que foi alcançado o limite de US$ 7 bilhões previsto pelo decreto 682/2025, motivo pelo qual foi desativada a opção de registro das DJVEs sob o benefício do referido decreto”, explicou a agência.
O efeito imediato no mercado de grãos foi uma intensa volatilidade, especialmente na cotação da soja, que caiu US$ 18,1 por tonelada em apenas um pregão, passando de US$ 360,5 para US$ 342,4. Analistas destacam que o mercado ficou praticamente paralisado após comentários do secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, sugerindo o fim do feriado tributário para produtores de commodities que liquidam divisas.
Reações e incertezas no cenário externo
Questionado pelo jornal La Nación, o analista de mercado Lorena D’Angelo revelou que a maior preocupação reside na falta de clareza sobre o que realmente os Estados Unidos pretendem com o fim temporário das restrições. “Não está claro se o que o governo americano pede é a eliminação definitiva dos direitos de exportação ou apenas uma suspensão temporária após outubro. Essa incerteza prejudica os produtores argentinos e abre espaço para a China aproveitar a oportunidade para comprar soja argentina a preços mais baixos”, afirmou.
O mercado reagiu com aumento de insegurança e retração nas negociações, uma vez que os exportadores interpretaram a fala de Bessent como uma possível eliminação definitiva do tributo, levando muitos a interromperem validações de preços e deixando o mercado praticamente bloqueado. Segundo a analista, essa instabilidade reflete um cenário ofertado mais do que demandado, com volumes altos inicialmente, mas agora travados pelo ambiente externo incerto.
Perspectivas futuras e apoio internacional
Além do quadro interno, o governo argentino continua recebendo apoio internacional, com o Banco Mundial e o BID antecipando US$ 8 bilhões em ajuda financeira ao país, em meio à crise cambial. Essa movimentação busca estabilizar a economia e fortalecer as reservas cambiais, que vêm sendo pressionadas por volatilidade e incertezas no mercado de dólares.
Por sua vez, o governo de Milei oficializou, nesta quinta-feira, a redução a 0% dos tributos sobre exportações de carnes bovina, de aves, equina, animais vivos e seus subprodutos, prorrogando o esquema de isenção até o final de outubro, conforme o Decreto 685/2025 publicado no Diário Oficial. A medida visa impulsionar o setor agroindustrial e ampliar a disponibilidade de produtos no mercado internacional.
Cenário de incerteza e próximos passos
A fala de Scott Bessent gerou confusão no mercado, levando à paralisação parcial das operações de exportação. Analisou-se que, até o momento, já foram acumuladas DJVEs no valor de US$ 4,1 bilhões, representando 60% da meta estipulada. Os investidores permanecem atentos às próximas movimentações do governo e às possíveis mudanças na política de exportação, que podem decidir o ritmo de recuperação econômica do país.
Para entender melhor os desdobramentos e impactos da situação argentina, confira a reportagem completa no GLOBO.