A Receita Federal, em uma operação conjunta com o Ministério Público de São Paulo (MP-SP), desmascarou uma ampla rede de lavagem de dinheiro que envolve cerca de 60 motéis registrados em nomes de laranjas, todos vinculados ao Primeiro Comando da Capital (PCC). A investigação, que ocorreu nesta quinta-feira (25) sob o nome de Operação Spare, revelou que esses motéis movimentaram mais de R$ 450 milhões entre 2020 e 2024, visando ocultar os lucros originados do crime organizado.
Esquema ilegal e seus desdobramentos
De acordo com a Receita Federal, os motéis não apenas geraram lucro, mas também contribuíram significativamente para o aumento do patrimônio dos sócios associados ao PCC, totalizando a distribuição de R$ 45 milhões em lucros e dividendos. Um exemplo alarmante é de um estabelecimento que reportou 64% de sua receita bruta como lucro. Restaurantes anexos aos motéis, que operam sob CNPJs próprios, também estão envolvidos; um deles sozinha distribuiu R$ 1,7 milhão após registrar receita de R$ 6,8 milhões entre 2022 e 2023.
As investigações apontam que, além dos motéis, o grupo criminoso estava conectado a lojas de franquias e até empreendimentos de construção civil. A Receita identificou que 21 CNPJs estavam ligados a 98 estabelecimentos da mesma franquia, todos operando em nome de suspeitos associados à operação.
Movimentações financeiras suspeitas
Entre 2020 e 2024, essas empresas movimentaram uma quantia impressionante de aproximadamente R$ 1 bilhão. No entanto, detalhadamente, emitiram apenas R$ 550 milhões em notas fiscais, sobressaindo nas fiscalizações uma taxa de tributo federal extremamente baixa — apenas R$ 25 milhões — o que equivale a meros 2,5% do total movimentado.
“Com os recursos obtidos por meio do esquema, os alvos adquiriram imóveis e bens de alto valor, diretamente ou pelo uso de empresas patrimoniais e de fachada. Os bens identificados são estimados em apenas 10% do patrimônio real dos envolvidos”, comentou um representante da Receita Federal.
Identificação do líder do esquema
O empresário Flávio Silvério Siqueira, conhecido como “Flavinho”, desponta como o principal alvo dessa operação. Investigado há anos, ele é suspeito de liderar o esquema de venda de combustíveis adulterados, e suas conexões se estendem a numerosas atividades que envolvem a lavagem de dinheiro. Somente os postos de combustíveis geridos por ele movimentaram mais de R$ 4,5 bilhões durante o mesmo período, mas recolheram apenas R$ 4,5 milhões em tributos federais, o que representa uma preocupante fração de 0,1% do total.
Além disso, a Receita Federal detectou um padrão suspeito de retificação nas declarações de Imposto de Renda dos envolvidos. Noticiou-se que membros da família do principal suspeito aumentaram seu patrimônio declarado em cifras irregulares, somando cerca de R$ 120 milhões atualizados.
Ação coordenada e mandados de busca
A Operação Spare cumpre uma série de 25 mandados de busca e apreensão, sendo 19 em São Paulo, além de outros em Santo André, Barueri, Bertioga, Campos do Jordão e Osasco. A operação conta com a participação de 64 servidores da Receita Federal e 28 do MP-SP, incluindo representantes da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo e aproximadamente 100 policiais.
As investigações feitas pelos órgãos competentes mostraram conexões diretas entre os alvos da Operação Spare e indivíduos envolvidos em ações anteriores de combate ao crime organizado, como a Operação Carbono Oculto. Essa rede criminosa não se limita a motéis, pois também está inserida em módulos de negócios que podem expor ainda mais a fragilidade do sistema contra a lavagem de dinheiro.
Perspectivas futuras e combate ao crime organizado
A Receita Federal anunciou que continuará sua vigilância sobre as operações de lavagem de dinheiro, mantendo a pressão sobre aqueles que utilizam estruturas empresariais para introduzir recursos de origem ilícita na economia. A intensificação de ações como a “Operação Cadeia de Carbono”, que recentemente apreendeu cargas de navios no Porto do Rio de Janeiro, ressalta o comprometimento da Receita em proteger a economia nacional contra fraudes e sonegação.
Esses desdobramentos não apenas iluminam a estrutura do crime organizado no Brasil, mas também destacam a importância de uma ação coordenada e constante para combater a lavagem de dinheiro e fortalecer a integridade do sistema econômico brasileiro.