Em um desfecho que reflete a força da mobilização popular, o Senado rejeitou e arquivou, em decisão unânime, a chamada PEC da Blindagem, que visava modificar a Constituição para oferecer proteção a parlamentares de processos judiciais. O movimento acontece em resposta a manifestações realizadas no último domingo, onde cidadãos se uniram nas ruas de diversas capitais para expressar sua repulsa às recentes decisões do Congresso. A proposta havia sido aprovada rapidamente pela Câmara dos Deputados na semana anterior, mas não obteve a mesma receptividade no Senado.
A tramitação acelerada que não resistiu à pressão popular
A PEC da Blindagem foi patrocinada pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e sua votação foi marcada pela rapidez, com uma aprovação de 353 votos a favor e 134 contra, marcada por um acordo entre partidos do Centrão e o governo. No entanto, a reação negativa da população nas redes sociais, especialmente após a aprovação de uma proposta de anistia a golpistas, gerou um movimento de protesto que levou milhares às ruas nas 27 capitais do Brasil.
A forte resistência da sociedade civil e a falta de apoio no Senado resultaram em uma derrota significativa para a proposta, que foi arquivada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) por 27 votos a zero. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), oficializou o arquivamento em plenário, reiterando que não havia espaço para discussão após a rejeição unânime na comissão.
Reações à rejeição da PEC
Em uma declaração que espelha a opinião pública, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comentou que a decisão era previsível e criticou a proposta como desnecessária e provocativa. Para Lula, “o único jeito de as pessoas serem protegidas é não fazerem coisas erradas”. A proposta, que estabelecia que deputados e senadores só poderiam responder a processos criminais com autorização prévia das suas respectivas Casas, foi considerada por muitos como um retrocesso à democracia e à justiça.
O relator da proposta, Alessandro Vieira (MDB-SE), também expôs preocupações sobre os impactos negativos da aprovação da PEC, argumentando que ela poderia favorecer a criminalidade organizada dentro do Parlamento. “É uma PEC desenhada para proteger bandido”, declarou, enfatizando que a história já havia demonstrado os danos que uma medida dessa natureza poderia trazer.
Críticas e apelos
Setores da oposição e até mesmo alguns parlamentares que inicialmente apoiavam a proposta mudaram de posição, reforçando a necessidade de arquivamento da proposta. O senador Eduardo Girão (Novo-CE) e Jorge Seif (PL-SC) foram alguns dos que pediram que a proposta fosse completamente enterrada. Girão pediu que o relatório fosse acatado sem margem para debate, e Seif retirou seu voto em separado, solicitando a apreciação de uma proposta que reforça os direitos dos parlamentares sob o artigo 53 da Constituição.
Contrapondo-se, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) criticou o que considera arbitrariedades do Supremo Tribunal Federal (STF), mencionando que a pressão sobre os parlamentares não poderia ser ignorada. Em meio a esse embate, a narrativa em torno da blindagem de parlamentares continua a ser um tema polarizador na política brasileira.
Com a conclusão deste capítulo, a análise e a vigilância da sociedade se mostram mais fundamentais do que nunca, destacando a importância de um parlamento que opere sob princípios de transparência e integridade.
A rejeição da PEC da Blindagem pode não ser o fim do debate sobre as prerrogativas dos parlamentares, mas, por agora, reflete a voz da sociedade e a necessidade de manter o equilíbrio entre direitos e responsabilidades no cenário político brasileiro.