A Operação Blasfêmia, realizada pela Polícia Civil do Rio de Janeiro e pelo Ministério Público do Estado, trouxe à tona um esquema de estelionato religioso, liderado por Luiz Henrique dos Santos Ferreira, autointitulado Pastor Henrique Santini. O pastor, junto a um grupo de 22 pessoas, é acusado de ter movimentado mais de R$ 3 milhões ao longo de dois anos, prometendo “milagres” e curas a fiéis em troca de doações que variavam entre R$ 20 e R$ 1.500.
Como funcionava o esquema
De acordo com as investigações, as operações do grupo eram realizadas a partir de escritórios de telemarketing em Niterói e São Gonçalo. Os atendentes, que não tinham experiência religiosa, eram contratados para simular interações com as vítimas através de chamadas e mensagens. Quando um fiel entrava em contato, ele ouvia gravações já editadas que davam a impressão de estar conversando diretamente com Santini.
“Esses atendentes enviavam mensagens e ligavam para os contatos após os fiéis interagirem com vídeos postados nas redes sociais de Santini, onde eram feitas promessas de cura e prosperidade”, explicou o delegado Luiz Henrique Marques, da 76ª DP (Centro de Niterói). Assim, muitos fiéis eram induzidos a fazer doações em forma de “sacrifícios espirituais”.
Promessas que enganam
Um dos casos mais emblemáticos é o de uma seguidora que fez mais de 80 doações após a promessa de a cura do câncer de seu pai. Ela, assim como outras vítimas, acreditava estar ajudando um líder de fé genuíno. Contudo, as gravações em que supostamente Santini oferecia orações e bênçãos eram uma estratégia bem elaborada para arrecadar dinheiro.
“Esse vídeo é só para você, que está com a carteira vazia e a conta zerada: Deus mandou fazer uma oração para você, que vai repreender o devorador e liberar a abundância”, dizia o pastor em um de seus vídeos.
A operação e as consequências
No dia 24 de setembro, policiais cumpriram mandados de busca e apreensão na residência de Santini, localizada em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca. Durante a operação, foram apreendidos R$ 32 mil em dinheiro, moedas estrangeiras, celulares e outros documentos que comprovam o funcionamento da organização criminosa.
A Justiça determinou que Santini ficasse sob monitoramento com tornozeleira eletrônica e bloqueou suas contas bancárias e bens. Ele chegou a afirmar que estava sendo perseguido por sua prática religiosa e que não havia encontrado provas que o incriminassem durante a operação.
Implicações legais e futuras investigações
As investigações revelaram que, além do estelionato, os acusados também enfrentam charges por charlatanismo, curandeirismo, e associação criminosa, com penas que podem chegar a 29 anos de prisão. O delegado Luiz Henrique Marques enfatiza que a ação dos líderes religiosos no Brasil deve respeitar a liberdade de culto, mas que, quando há fraude, isso se torna uma prática criminosa que deve ser punida.
A operação está longe de terminar; novas vítimas estão sendo identificadas e a polícia investiga outros possíveis integrantes desta rede de estelionato religioso. As autoridades pedem que quem se sentir lesado entre em contato, reforçando a importância da vigilância na atuação de líderes religiosos em geral.
Em um cenário em que a confiança em figuras religiosas pode ser alta, essa operação serve como um alerta sobre os cuidados que devem ser tomados para evitar ser enganado por promessas infundadas.
Assim, a Operação Blasfêmia abre um importante debate sobre a fronteira entre fé e exploração, trazendo questões que reverberam através de toda a sociedade brasileira.