O empresário Antônio Carlos Camilo Antunes, mais conhecido como o “Careca do INSS”, tem seu depoimento agendado para essa quinta-feira na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga um esquema bilionário de cobranças ilegais direcionadas a aposentados e pensionistas. Detido no dia 12 de setembro, ele é considerado um dos principais operadores das fraudes e desvios de recursos do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
A expectativa em torno do depoimento
A oitiva de Antunes é uma das mais aguardadas da CPI, já que sua presença foi solicitada anteriormente, mas sem sucesso. Esta será a primeira oportunidade em que o empresário se manifestará publicamente sobre as acusações que pesam contra ele. Na última segunda-feira, durante depoimento à Polícia Federal, Antunes negou qualquer envolvimento em irregularidades no INSS.
Da superintendência da Polícia Federal em Brasília, Antunes chegará ao Senado amparado por uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que permite que ele se mantenha em silêncio durante os questionamentos. A decisão, assinada pelo ministro André Mendonça, assegura que “em caso de efetiva apresentação para depoimento, o investigado deverá ter todos os seus direitos constitucionais resguardados, incluindo o direito ao silêncio e à não auto incriminação”.
O que a CPI pretende investigar
A defesa de Antunes afirmou que, “em princípio”, ele comparecerá à CPI. Os parlamentares devem questioná-lo sobre sua “influência política” e “capacidade financeira e intimidatória”, aspectos que, segundo a Polícia Federal, justificaram sua prisão na Operação Sem Desconto. Embora nunca tenha ocupada um cargo dentro do INSS, ele é acusado de atuar como lobista, obtendo vantagens junto a servidores do órgão e atuando em nome de entidades sob investigação. Além disso, há suspeitas de lavagem de dinheiro envolvendo diversas empresas de sua propriedade.
Investigações e apreensões
Documentos sigilosos da Polícia Federal revelaram que foram apreendidos diversos veículos relacionados a Antunes, incluindo 11 carros, dos quais quatro são Porsches e quatro BMWs. Também foram registrados 40 movimentos de entrada e saída do país, particularmente com destino à Europa e aos Estados Unidos entre 2023 e 2024, somando um total de 20 viagens internacionais.
Para justificar a necessidade da prisão de Antunes, os investigadores monitoraram sua compra recente de uma casa nos Estados Unidos e notaram planos de viagem ao exterior que coincidem com o desencadeamento da Operação Sem Desconto. Esses movimentos foram interpretados pela PF como uma tentativa de fuga, representando um risco concreto de que ele deixasse o país.
A defesa do empresário informou que não se manifestará publicamente fora do processo. Contudo, a CPI está determinada a aprofundar a investigação, e Antunes terá que responder por transações que totalizam R$ 25,5 milhões, realizadas com associações e intermediários envolvidos no esquema, incluindo uma transação suspeita de R$ 100 mil para um secretário municipal em uma cidade do interior do Maranhão. Além disso, ele teria enviado R$ 9,3 milhões para indivíduos ligados a servidores do INSS entre 2023 e 2024.
Considerações finais
Os parlamentares também pretendem interrogar Antunes sobre a empresa offshore que ele registrou nas Ilhas Virgens Britânicas, um conhecido paraíso fiscal. A coincidência temporal com o esquema da “farra do INSS”, a utilização de uma empresa sediada em território fiscal favorável e as transações financeiras de alto valor alimentam as suspeitas de que essas operações foram concebidas como uma maneira de ocultar a origem ilícita dos recursos.
Diante desse cenário, o depoimento de Antônio Carlos Camilo Antunes promete ser um marco na investigação das fraudes no INSS, possivelmente revelando mais detalhes sobre o funcionamento de um dos esquemas mais complexos de corrupção que afeta o sistema previdenciário brasileiro.