Um novo estudo, publicado na terça-feira na revista BMJ Evidence-Based Medicine, determina que o consumo de qualquer quantidade de álcool está associado ao aumento do risco de demência na vida adulta. Esse achado coloca em questão pesquisas anteriores que sugeriam que a ingestão leve de álcool poderia ser mais benéfica do que não beber nada.
Desafiando as crenças anteriores
Pesquisas anteriores indicavam que consumir menos de sete bebidas por semana poderia ter efeitos neuroprotetores. Contudo, esses estudos foram focados em pessoas mais velhas e não diferenciavam entre ex-bêbados e não-bêbados ao longo da vida, o que pode ter distorcido os resultados. De acordo com Anya Topiwala, autora principal do estudo e pesquisadora na Universidade de Oxford, os resultados indicam que mesmo pequenas quantidades de álcool podem elevar o risco de demência.
O que a pesquisa revela
O estudo analisou dados de quase 560.000 participantes do UK Biobank e do US Million Veteran Program, abrangendo indivíduos de diversas ancestras. Pessoas que relataram consumir pequenas quantidades de álcool tinham um risco menor de demência comparadas aos bebedores pesados, mas de forma surpreendente, os não-bêbados apresentaram riscos semelhantes aos de quem consumia álcool de forma excessiva.
O estudo também incluiu análises genéticas que mostraram que um risco genético mais elevado está associado a um maior risco de demência, confirmando que a relação entre o consumo de álcool e o risco de demência é linear. “Há um aumento de 15% no risco de demência para quem consome três drinques por semana comparado a quem consome apenas um,” enfatizou Topiwala.
Perspectivas dos especialistas
O neurologista Dr. Richard Isaacson, que não participou do estudo, observa que, embora as descobertas sejam intrigantes, elas não provam que o consumo de álcool causa demência diretamente. Isaacson aconselha seus pacientes, especialmente aqueles com a variante genética APOE4, a evitar completamente o álcool. Para pessoas com menor risco genético, o impacto do álcool muitas vezes depende do “quando” e “como” as pessoas bebem. Por exemplo, duas bebidas antes de dormir em jejum terão um efeito mais prejudicial sobre a saúde cerebral do que uma bebida ocasional durante um jantar.
A complexidade da relação
Este estudo ilustra a complexidade da relação entre álcool e demência. Embora os resultados sugiram uma conexão preocupante, ainda não são conclusivos. Como afirma Tara Spires-Jones, professora da Universidade de Edimburgo, “nenhuma parte do estudo pode provar de forma conclusiva que o uso de álcool causa demência”, mas os dados acumulados ao longo dos anos servem para reforçar a associação entre o consumo de álcool e a probabilidade de demência.
Conclusões a serem consideradas
Embora a questão de quanta quantidade de álcool é considerada segura continue a ser debatida, esse estudo acrescenta uma nova camada ao entendimento do impacto do álcool na saúde cerebral. Com base nas evidências atuais, a melhor abordagem, especialmente para aqueles com predisposição genética, pode ser a abstinência total do álcool, enquanto os que têm menor risco devem considerar a moderação.
Assim, o debate sobre o impacto do consumo de álcool na saúde, particularmente em relação à demência, deve continuar. O comportamento de consumo deve ser adaptado às circunstâncias e ao histórico familiar, enfatizando a importância de consultas médicas personalizadas.