No dia 24 de setembro, a Polícia Civil do Rio de Janeiro em parceria com o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) deu início à Operação Blasfêmia. A operação busca desmantelar um esquema de estelionato religioso via telemarketing que atuava em todo o Brasil. De acordo com as investigações, o grupo liderado pelo Pastor Henrique Santini prometia “cura” e “milagres” em troca de quantias que variavam de R$ 20 a R$ 1.500, movimentando, no total, pelo menos R$ 3 milhões nos últimos dois anos.
O esquema criminoso: como funcionava?
Os agentes da lei cumpriram mandados de busca e apreensão em locais onde se suspeitava que as atividades ilegais ocorriam. O Pastor Henrique Santini, também conhecido como Profeta Santini, foi identificado como o chefe do esquema. As medidas cautelares determinadas pela Justiça incluem o uso de tornozeleira eletrônica, bloqueio de contas bancárias e sequestro de bens do acusado. No momento da abordagem, Santini estava em sua residência e resistiu à entrada da polícia, que precisou ameaçar arrombar a porta para conseguir acessá-lo.
Em uma declaração à TV Globo, Santini alegou ser vítima de “perseguição religiosa”, uma afirmação que contrasta com a gravidade das acusações contra ele e seus comparsas.
A tática utilizada pelo grupo
Com mais de 8 milhões de seguidores nas redes sociais, Santini utilizava seu alcance para divulgar vídeos contendo mensagens religiosas que incluíam números de telefone para contato. Durante as interações com os fiéis, a equipe utilizava gravações de áudio, fazendo com que as vítimas acreditassem estar recebendo bênçãos diretamente do pastor. Esse método era um dos principais responsáveis por induzir transferências bancárias via PIX, apresentadas como “doações espirituais”.
O esquema operava de escritórios de telemarketing localizados em Niterói e São Gonçalo, onde ao menos 70 atendentes recebiam treinamento e comissões com base no valor arrecadado. Documentos encontrados durante as buscas mostraram que existiam metas rigorosas de desempenho e que, em casos de baixa arrecadação, os funcionários poderiam ser dispensados.
Vítimas e alcance do esquema
As investigações revelaram a grande extensão do esquema e seu impacto nas vidas das vítimas. Em uma ação anterior, em fevereiro de 2025, a polícia flagrou 42 pessoas atendendo virtualmente em um imóvel vinculado à Casa dos Milagres, em Niterói. Durante a operação, foram apreendidos 52 celulares, 6 notebooks e 149 chips de telefonia, que possibilitaram a identificação de milhares de pessoas afetadas pela fraude.
No total, 23 indivíduos foram denunciados por crimes como estelionato, charlatanismo, curandeirismo, associação criminosa, falsa identidade, crime contra a economia popular, corrupção de menores e lavagem de dinheiro. As penas para essas acusações podem ultrapassar 29 anos de prisão. Investigações continuam para identificar novas vítimas e outros possíveis integrantes da organização criminosa.
O que esperar da Operação Blasfêmia?
A Operação Blasfêmia não apenas busca responsabilizar os envolvidos, mas também alertar a população sobre os perigos do estelionato religioso, especialmente em tempos de vulnerabilidade social. A promessa de milagres e curas, frequentemente utilizada para explorar a confiança dos fiéis, é um tema que merece uma atenção especial das autoridades e da sociedade civil.
Enquanto os trabalhos da polícia e do MPRJ avançam, fica a reflexão sobre a importância de estar atento às práticas religiosas que podem se transformar em armadilhas de fraude. O caso serve de alerta para outros possíveis esquemas que possam existir, ressaltando a necessidade de uma vigilância contínua e a educação da população sobre direitos e meios de denúncia.
Com o andamento das investigações, espera-se que mais esclarecimentos venham à tona e que a Justiça seja feita para aqueles que se aproveitam da fé e da vulnerabilidade alheia.
Os desdobramentos da Operação Blasfêmia serão acompanhados de perto por todos os envolvidos, e novas informações devem surgir à medida que as investigações prosseguem.