Brasil, 24 de setembro de 2025
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Incêndios devastam Dique da Vila Gilda e afetam mil moradores

Dois incêndios em menos de um mês causaram destruição na maior favela de palafitas do Brasil, em Santos, afetando a vida de muitos.

Em um intervalo de menos de um mês, o Dique da Vila Gilda, a maior favela de palafitas do Brasil, localizada em Santos, no litoral de São Paulo, enfrentou dois incêndios devastadores, que impactaram mais de mil pessoas e destruíram aproximadamente 100 moradias. A comunidade, que já convivia com diversas dificuldades, agora se vê diante de novos desafios de sobrevivência e reconstrução, conforme registrado pela equipe do programa Profissão Repórter ao longo de 60 dias.

Desafios enfrentados pelos moradores após os incêndios

Entre os escombros, encontramos Richard de Souza Aguiar, uma criança de apenas 9 anos que, ao lado de seu pai, Domingos dos Santos Aguiar, perdeu tudo o que tinha. “Eu morava onde aquela camisa laranja estava”, lamentou Richard, apontando para a área onde até então era seu lar.

A encarregada de supermercado, Alessandra Santos, que também teve sua casa danificada pelos incêndios, fez a escolha de reconstruir sua cozinha no dia seguinte ao desastre, mesmo sem banheiro, paredes ou o essencial para viver dignamente. “Eu decidi continuar aqui”, afirma, demonstrando uma força impressionante em meio à adversidade.

Tragédias e a luta por justiça

A destruição também trouxe consigo a tragédia. Sandra Sarmento da Silva, de 64 anos, faxineira e cuidadora, perdeu a vida no incêndio. Sua filha, Verônica Silva de Jesus, compartilhou a dor de não ter conseguido enterrar a mãe: “O corpo ainda não foi liberado e eu estou nessa luta”, diz Verônica, emocionada. Ela recorda que sua mãe já havia enfrentado três incêndios nos quase 30 anos de moradia na comunidade.

Ainda sem resposta sobre o que ocorreu, o segundo incêndio, que ocorreu em 28 de agosto, atingiu mais 90 palafitas, e seus motivos continuam desconhecidos. Aline e Alan, um casal entre os afetados, relataram a dor de perder praticamente tudo em um instante. “Tem dias que a gente se pega aqui chorando. Mas não pretendo voltar lá para o Dique porque não compensa. Você não paga água e luz, mas em cinco minutos você perde tudo”, desabafou Aline.

A precariedade das condições de vida no Dique

O Dique da Vila Gilda começou a ser ocupado nos anos 1960, após uma obra de drenagem nas margens do Rio dos Bugres. Desde então, a comunidade enfrenta a ausência de saneamento básico, e a falta de condições dignas de habitação virou uma constante na vida dos moradores. O esgoto e o lixo são despejados diretamente na maré, e para ter acesso à água potável, os residentes precisam puxar canos de ruas urbanizadas nas proximidades.

Dona Sônia, que chegou à comunidade em 1973, lembra de uma conversa com uma patroa que se espantou ao perceber as condições de vida dos moradores: “Ela perguntou: ‘Como vocês conseguem viver em cima daquela lama? Para onde vai o esgoto?’ Eu disse: ‘Para maré’.” A precariedade é uma realidade constante no Dique, onde os fios de energia se acumulam por becos estreitos, refletindo a informalidade e a precariedade das instalações.

A busca por mudanças e apoio comunitário

A luta por melhorias na comunidade não é apenas uma questão de sobrevivência, mas também uma batalha por dignidade. A ativista Thaís Helena, que viveu por 15 anos nas palafitas, compartilha sua experiência, ressaltando a necessidade de mudanças na percepção da população sobre as condições de vida no Dique. “A visão que se tem é muito estigmatizada, culpabilizando os moradores pela falta de infraestrutura adequada, sem considerar as políticas públicas que ainda não foram implementadas de forma inclusiva”, argumenta.

A situação se torna ainda mais complicada com as promessas de auxílio aluguel da prefeitura, que não têm sido atendidas prontamente. O pedreiro Moisés, que perdeu seu barraco após os incêndios, e sua família, enfrentam um espaço reduzido de cinco metros quadrados enquanto buscam uma solução definitiva para a moradia. “Eu não estou conseguindo nem dormir”, desabafa Moisés, que precisa de apoio e esperança para recomeçar.

Os incêndios no Dique da Vila Gilda evidenciam a fragilidade das condições de vida em comunidades vulneráveis e a urgência de ações efetivas por parte do governo e da sociedade para garantir a dignidade e a segurança de quem ali vive.

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