Em meio ao debate sobre a PEC da Blindagem, a preocupação dos brasileiros com a corrupção teve um aumento significativo em julho deste ano. Segundo a pesquisa “What Worries The World” realizada pelo instituto Ipsos, o índice subiu de 33% para 38%, o maior aumento mensal registrado até o momento. Para Marcos Calliari, CEO da Ipsos, este crescimento está ligado também à atenção do público sobre o julgamento da tramitação golpista no Supremo Tribunal Federal (STF) e as investigações sobre a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).
Crescimento da preocupação com a corrupção
O estudo revelou que a preocupação com a corrupção é o segundo tema mais mencionado entre os medos da população, ficando atrás apenas do crime e da violência. Este último também apresentou um pequeno aumento, passando de 42% em agosto para 43% em setembro. No global, o índice de temor com a corrupção é de 28%, o que faz do Brasil uma exceção, com 10 pontos percentuais acima da média mundial.
Calliari destaca que o aumento da preocupação pode estar diretamente relacionado à intensa cobertura midiática sobre o julgamento da tentativa de golpe e as operações da Polícia Federal contra o PCC e suas ações de lavagem de dinheiro em São Paulo. Além disso, os desdobramentos da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS e a discussão em torno da PEC da Blindagem têm ampliado a visibilidade desses temas no cotidiano da população.
Catástrofe ou esperança? A percepção do futuro no Brasil
Embora a pesquisa tenha mostrado um aumento da preocupação com a corrupção, também foi relatada uma leve melhora na percepção dos brasileiros sobre a direção do país. Aquele que acredita que o Brasil está indo na direção errada caiu de 63% para 59%. Essa leve melhoria no ânimo pode ser vista como um sinal otimista, embora a maioria da população ainda mantenha uma visão negativa.
A PEC da Blindagem, que visa proteger parlamentares de ações nas esferas criminal e cível, continua sendo um tema de controvérsia. A proposta, que foi discutida ao longo do ano, busca dar ao Legislativo a prerrogativa de determinar se um congressista investigado será réu ou não, gerando um debate intenso sobre a accountability no país.
Comparações internacionais
Calliari também aponta que, curiosamente, os Estados Unidos registraram, pela primeira vez neste ano, um pessimismo maior do que o brasileiro em relação à direção do país. “Isso é um reflexo do ambiente político e social polarizado que eles vivem”, afirma. No cenário global, a situação também não é favorável. A inflação, embora ainda preocupante, perdeu espaço para outras questões, como crime e violência, nos Estados Unidos. Na Argentina, o medo da corrupção subiu 11 pontos percentuais em um mês, evidenciando a instabilidade política local.
Reflexões sobre o bem-estar coletivo
A pesquisa Ipsos, que entrevistou cerca de mil brasileiros com idades entre 16 e 74 anos, foi realizada de 22 de agosto a 5 de setembro. É importante ressaltar que a amostra, embora relevante, não necessariamente reflete a totalidade da população brasileira, concentrando-se em um grupo mais “conectado” e com maior poder aquisitivo e nível educacional.
Calliari conclui que a mudança na percepção pública é rápida e conecta-se diretamente ao ambiente político e social. “É um retrato de um mundo em que o humor coletivo oscila entre a descrença e a inquietação. A estabilidade se tornou um bem raro, e a corrupção e o crime permanecem como preocupações preponderantes”, afirma ele.
Fica clara, portanto, a necessidade de um olhar atento para as questões políticas e sociais que moldam as preocupações da população, ressaltando a relevância da participação cidadã e da vigilância em relação às decisões que afetam o futuro do Brasil.
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