Um relatório do Projeto Fairwork Brasil, em parceria com a Universidade de Oxford, denuncia altos níveis de exploração e precariedade entre trabalhadores de aplicativos no país. A pesquisa analisou 10 plataformas populares, apontando que nenhuma delas atende completamente aos critérios considerados como condição de trabalho decente.
Benchmark de trabalho justo aponta que apenas duas plataformas atingiram pontuação mínima
Segundo o estudo, as empresas InDrive e Superprof pontuaram em um dos cinco critérios avaliados, que incluem remuneração, condições, contratos, gestão e representação. Ambas garantiram pagar pelo menos o salário mínimo por hora, descontando custos como combustível e manutenção. No entanto, não conseguiram atingir os demais requisitos, como segurança, contratos justos e mecanismos de representação.
Relatos de trabalhadores confirmam rotina de salários baixos e jornadas extensas
Entre agosto de 2023 e agosto de 2025, a pesquisa ouviu diversos profissionais de plataformas digitais, que relataram baixa remuneração, jornadas excessivas e insegurança financeira. Muitos relatam endividamento para manter seus trabalhos, sendo obrigados a arcar com custos de manutenção de veículos, seguros, multas e até empréstimos incentivados pelas próprias plataformas.
Impacto na saúde financeira e na qualidade de vida dos trabalhadores
Apesar da melhora de indicadores econômicos nacionais, os trabalhadores de aplicativos continuam expostos a riscos elevados, sem proteção social adequada. Especialistas afirmam que o modelo atual de trabalho plataforma é um retrocesso, semelhante ao século XIX, e que a falta de avanços regulatórios amplia a vulnerabilidade desses profissionais na América Latina.
Critérios de avaliação revelam uma série de lacunas no modelo de trabalho digital
A avaliação de cada plataforma seguiu cinco princípios essenciais para o trabalho decente. Nenhuma delas conseguiu comprovar condições satisfatórias em questões como condições de segurança, contratos transparentes, canais de comunicação efetivos ou mecanismos de representação. Apenas InDrive e Superprof pontuaram na remuneração, por garantirem pagamento acima do salário mínimo em uma das categorias.
Design do estudo e opiniões de especialistas
O método envolve evidências verificadas por revisores independentes e permite que as plataformas enviem informações adicionais antes do resultado final. Para a professora Maria Aparecida Bridi, da UFPR, a tecnologia tem sido usada para reproduzir práticas de exploração do século XIX. Ricardo Festi, da UnB, destaca o aumento do sofrimento dos trabalhadores e violações de direitos.
Para Julice Salvagni, da UFRGS, há uma persistente precariedade que viola direitos fundamentais, e Rodrigo de Lacerda Carelli, da UFRJ, reforça que a classificação como autônomos impede a garantia de direitos básicos, consolidando condições de trabalho inadequadas.
Próximos passos e perspectiva para regulamentação
O relatório recomenda que as condições de trabalho nessas plataformas sejam formalizadas e que haja maior fiscalização por parte das autoridades brasileiras. A ausência de regulação eficaz contribui para a continuidade de práticas que prejudicam a saúde, a segurança e os direitos desses profissionais.
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