O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva fez nesta terça-feira (23) na Organização das Nações Unidas (ONU) severas críticas à política externa da Casa Branca. Em um discurso que ecoou preocupações sobre o futuro da democracia e do multilateralismo, Lula se posicionou como uma voz firme contra as práticas consideradas como desestabilizadoras.
Críticas à política dos EUA
Embora não tenha mencionado diretamente o ex-presidente Donald Trump, Lula condenou os ataques ao multilateralismo promovidos pelo governo americano, ressaltando a perseguição a imigrantes e o uso arbitrário de sanções econômicas como práticas prejudiciais. Durante sua fala, o presidente brasileiro também se manifestou contra o bloqueio ao reconhecimento do Estado Palestino, assim como a inclusão de Cuba na lista de nações que supostamente apoiam o terrorismo.
“Estamos cansados de ver práticas que comprometem a paz mundial e os direitos humanos sendo respaldadas por potências. O Brasil defende a soberania e a dignidade de todos os povos”, afirmou Lula, recebendo aplausos dos presentes na Assembleia Geral da ONU.
Diversidade e soberania nacional
O encontro foi também uma oportunidade para Lula defender a soberania nacional brasileira, especialmente à luz do julgamento que resultou na condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro a 27 anos de prisão por tentativa de golpe. Lula enfatizou que tal decisão foi justa e que o Brasil está comprometido com a sua democracia.
Além disso, o presidente discutiu as “medidas unilaterais” impostas pelo governo dos EUA ao Brasil, especialmente a cassação de vistos para autoridades brasileiras e a imposição de tarifas comerciais. “Ao fazer isso, o que se busca é desestabilizar a democracia no Brasil e na América Latina como um todo”, criticou Lula.
A defesa das plataformas digitais
Outro ponto central do discurso foi a defesa da regulação das plataformas digitais, uma questão rejeitada pela administração anterior dos EUA. “Os ataques à regulação servem para encobrir interesses escusos e dar guarida a crimes e investidas contra a democracia”, argumentou o presidente, reforçando a necessidade de proteger a integridade das democracias ao redor do mundo.
Preocupações com a criminalidade e terrorismo
No entanto, Lula não se limitou a criticar as práticas americanas; ele também abordou a problemática da equiparação entre criminalidade e terrorismo, um discurso que poderia abrir precedentes para intervenções militares na América Latina. Em sua visão, são necessárias discussões mais profundas sobre o que realmente significa segurança e como isso deve ser abordado nas relações internacionais.
A importância do Sul Global
O presidente brasileiro também fez um apelo contundente para que as vozes do Sul Global sejam ouvidas nas decisões internacionais, destacando a relevância de organizações multilaterais como o Brics. Esse foi um ponto que ele considerou essencial para garantir que as demandas e interesses de países em desenvolvimento sejam respeitados.
Concluindo seu discurso, Lula deixou a tribuna da ONU como uma figura oposta à política unilateral à qual muitos associam a administração americana, abrindo um espaço para reformas e um novo olhar sobre as relações internacionais.
A presença de Lula na ONU não apenas reafirma sua posição de liderança no cenário internacional, mas também destaca um momento em que o Brasil procura se distanciar das tensões políticas globais, oferecendo uma perspectiva de diálogo e cooperação.