Mesmo com dificuldades temporárias, a relação entre Brasil e Estados Unidos continua a oferecer diversas oportunidades de cooperação e investimento, especialmente nos setores de energia, tecnologia, agricultura e ações climáticas. A análise foi feita durante o “Brasil-US Energy and Tech Forum 2025”, realizado nesta segunda-feira em Nova York pelo Valor em parceria com a Amcham Brasil.
Perspectivas de cooperação em energia e inovação
Participantes do evento ressaltaram que segmentos como energia renovável, data centers, inteligência artificial (IA), combustível sustentável de aviação (SAF), agronegócio e bioeconomia representam áreas de grande potencial para ambos os países. O cônsul-geral do Brasil em Nova York, embaixador Adalnio Ganem, afirmou que a relação brasileira com os EUA deve permanecer forte no longo prazo. Segundo ele, o relacionamento foi impactado por tarifas de 50% sobre exportações brasileiras, mas há otimismo quanto às oportunidades na energia limpa e na agenda ambiental.
Ambiente de diálogo e desafios atuais
Ganem destacou a importância do debate, realizado no histórico Lotos Club, especialmente com a aproximação da COP30 e as mudanças na geopolítica e nas cadeias de suprimentos globais. Ele reforçou que o desenvolvimento sustentável requer um esforço conjunto e do setor privado, destacando que a presença de líderes influentes no evento reforça a relevância do diálogo para a busca por soluções conjuntas.
Impactos do cenário econômico e político
Entre as notícias de destaque, o mercado argentino apresentou forte alta nos títulos após sinalizações dos EUA de apoio financeiro ao país, enquanto a gigante de tecnologia Google enfrenta pedidos do governo dos EUA para desmembramento de seu monopólio na área de publicidade digital. Sobre o relacionamento Brasil-EUA, o ex-embaixador Michael McKinley afirmou que os dois países podem cooperar mais intensamente na cadeia de minerais críticos, especialmente na eventual produção e processamento de minerais no Brasil, em um momento em que a China domina essa etapa no setor.
Futuro energético e inovação tecnológica
A agenda energética dominou grande parte do evento. Thomas Kwan, vice-presidente do Instituto de Pesquisas de Sustentabilidade da Schneider Electric, observou que a energia renovável é altamente atrativa para empresas internacionais interessadas no Brasil, apesar do desafio de distribuir energia solar e eólica, principalmente na região Nordeste. Ele destacou que a infraestrutura digital será decisiva para eliminar gargalos de transporte de energia no país.
Outro ponto importante foi o desenvolvimento de novas fontes de energia, que, segundo Marcelo Felipe Alexandre, do Estado do Rio, deve ocorrer de forma gradual, respeitando a responsabilidade social e a preservação de empregos existentes. A relação entre energia renovável e a instalação de data centers foi também evidenciada por Renato Ciuchini, do Grupo FS, que defendeu a necessidade de uma legislação clara para atrair investimentos em tecnologia e inteligência artificial, hoje em rapidíssima expansão globalmente.
Inovação e o papel dos data centers na economia
Ciuchini reforçou que a atual crise ao redor do projeto de lei Redata, que regula os incentivos para data centers no Brasil, prejudica a competitividade do setor. Ele citou que 60% dos dados de empresas brasileiras são processados fora do país, resultando em perdas de até US$ 8 bilhões anuais, e alertou que a atual legislação, que exige geração de energia renovável para novas plantas, é inviável devido ao tempo de construção, que pode chegar a cinco anos.
Perspectivas para a COP30 e o clima
O evento também abordou a importância da COP30, com o vice-presidente do Instituto Global de Energia da Câmara de Comércio dos EUA, Dan Byers, reforçando que a participação do setor privado evoluiu bastante ao longo dos anos. O professor Carlos Nobre destacou a urgência da ação climática global, afirmando que a COP30 deve ser a mais importante das 30 edições até hoje, diante de “uma emergência climática sem precedentes”.
Patrocinado pela JBS e com apoio de instituições como a Casa Branca, o evento reforçou que os temas em pauta — incluindo energia, IA, minerais críticos e agricultura — representam oportunidades de parceria estratégica entre Brasil e EUA, essenciais para o avanço sustentável e inovação tecnológica.
Fonte: O Globo