Na segunda-feira (22), teve início o recurso do Cardeal Angelo Becciu na Corte de Apelações do Vaticano, buscando reversão de sua condenação por má gestão de fundos da Santa Sé. A audiência ocorre após sua sentença de cinco anos e seis meses de prisão emitida em 2023, na análise do maior escândalo financeiro da história da Igreja Católica.
Detalhes do recurso e argumentos do cardeal
O processo, que reúne a revisão de evidências e recursos apresentados tanto pela defesa quanto pela acusação, promete reavaliar fatos e procedimentos levados ao tribunal durante o julgamento. Becciu, atualmente com 77 anos, foi condenado por envolvimento em negócios imobiliários em Londres e transferência de verbas do Vaticano para terceiros, sob alegações de irregularidades.
Apesar da condenação, ele permanece em liberdade enquanto o recurso corre na corte vaticana, tornando-se o primeiro cardeal a ser julgado pelo tribunal do Vaticano. Becciu, que inicialmente queria votar na última eleição papal, decidiu renunciar à participação por obediência a Papa Francisco, alegando “interesse da Igreja”.
Base da condenação e principais acusações
O tribunal condenou o cardeal com base em “evidências completas e irrefutáveis” de que ele utilizou dinheiro do Vaticano em uma operação imobiliária especulativa na rua Sloane, em Londres, que resultou em prejuízo superior a 200 milhões de dólares para a Santa Sé. A investigação revelou que Becciu, na época como “sostituto” (deputado do secretário de Estado), teria autorizado e participado ativamente da negociação, desconsiderando as regras da própria Igreja.
Além disso, ele foi considerado responsável por pagamentos não autorizados à fundação de um irmão na Sardenha, além de supostamente ter desviado mais de meio milhão de euros para uma especialista em segurança e geopolítica, que utilizou os recursos para fins pessoais, em vez de missões beneficentes ou de inteligência.
Reações de Becciu e argumentos de defesa
Becciu sempre alegou inocência e afirmou que atuou com a aprovação papal. Em sua defesa, declarou que os fundos destinados à caridade foram solicitados pelo bispo local para projetos sociais e que todas as operações estavam dentro do entendimento do então chefe do Vaticano, Monsenhor Alberto Perlasca, que hoje é considerado uma testemunha-chave na investida.
Seus advogados também alegam que há evidências de manipulação de testemunhas e de “conluio” com promotores do Vaticano, além de denúncias de ação arbitrária, uso de escutas ilegais e processos ilegítimos. Eles afirmam que há uma campanha de injustiça e de tentativas de encobrir procedimentos ilícitos e que o julgamento foi marcado por violações processuais.
Perspectivas para o futuro e impacto na Igreja
A apelação de Becciu deve ser decidida nos próximos meses, e seu resultado terá repercussões importantes para o futuro de sua carreira e para a reputação do sistema judicial da Igreja. Especialistas avaliam que, caso a decisão seja favorável ao cardeal, isso poderá abrir precedentes para outros processos de corrupção envolvendo figuras de alto escalão do Vaticano.
Enquanto isso, o Vaticano reforça seu compromisso com a transparência e a responsabilização, afirmando que o julgamento, apesar de polêmico, seguiu rigorosamente os princípios de justiça. Analistas destacam que o episódio expõe as fragilidades de uma administração que busca maior controle sobre seus recursos financeiros e moralidade institucional.
Mais detalhes sobre o andamento do recurso podem ser acompanhados na fonte oficial.