Brasil, 22 de setembro de 2025
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Desafios climáticos e sociais marcam a transição política em Bangladesh

O cenário eleitoral de Bangladesh em 2026 é impactado por mudanças climáticas, instabilidade política e crescente tensão social.

O caminho até o voto em fevereiro do próximo ano passa pelas mudanças climáticas, instabilidade política e uma alta tensão social. Para a minoria cristã, existe ainda uma preocupação com o retorno de movimentos islâmicos extremistas.

Paolo Affatato – Vatican News

A altíssima densidade populacional e a geografia de Bangladesh tornam o país especialmente vulnerável às mudanças climáticas, em prejuízo de milhões de pessoas. Imensas áreas estão abaixo do nível do mar e 77,6% do território encontra-se a menos de cinco metros acima do nível do mar, o que torna os bengaleses extremamente expostos ao aumento do nível dos oceanos.

Hoje, além do desafio ambiental, o país atravessa uma delicada transição política e se prepara para novas eleições. Em agosto do ano passado, uma revolta estudantil forçou a então primeira-ministra Sheikh Hasina a fugir para o exílio, após 15 anos no poder. O governo interino deve agora conduzir o país de 170 milhões de habitantes, com maioria muçulmana, por uma complexa situação econômica, social e política. A liderança desse processo cabe a Muhammad Yunus, economista de 85 anos e Prêmio Nobel da Paz, que prometeu eleições para fevereiro de 2026.

Muhammad Yunus durante posse como líder do governo interino de Bangladesh.

Muhammad Yunus durante posse como líder do governo interino de Bangladesh.   (AFP or licensors)

Na sociedade bengalesa, após um inicial entusiasmo generalizado, começa agora a circular certo ceticismo em relação ao futuro, e a tensão social permanece elevada. Um dos grupos-chave surgidos no cenário político após a revolta é o “National Citizen Party” (Partido Nacional dos Cidadãos), formado pelos líderes estudantis que conduziram os protestos. A “Awami League”, o partido de Hasina, foi impedido de apresentar seus próprios candidatos, depois que a comissão eleitoral suspendeu seu registro — uma medida que intensificou a polarização e as tensões sociais.

A preocupação dos cristãos

Segundo a agência Fides, entre os cristãos e outras minorias religiosas, nota-se também preocupação com o retorno dos partidos islâmicos radicais à cena política. De fato, a Suprema Corte de Bangladesh readmitiu o Jamaat-e-Islami — o maior partido muçulmano do país — nas eleições, após mais de dez anos em que o governo de Hasina o havia deixado às margens da política. O perigo, apontado sobretudo por entidades e associações da sociedade civil, é a influência que os partidos islamistas poderão exercer no futuro governo do país. Por essa razão, pede-se ao governo interino que conclua, antes das eleições, o processo de reformas constitucionais e estabeleça “um quadro institucional baseado nos princípios de democracia, pluralismo e igualdade”, destacou Bejoy N. D’Cruz, arcebispo da capital, Daca.

Membros do partido "Jamaat-e-Islami" durante manifestação nacional convocada por partidos islâmicos, no dia 18 de setembro.

Membros do partido “Jamaat-e-Islami” durante manifestação nacional convocada por partidos islâmicos, no dia 18 de setembro.   (AFP or licensors)

Violência política e direitos humanos

Em um momento de grave incerteza, o governo interino enfrenta dificuldades para “implementar sua agenda de direitos humanos”, afirmou a Human Rights Watch (HRW). As onze comissões de reforma, instituídas em 2024 para setores-chave da administração pública, apresentaram recomendações que, em muitos casos, o governo não conseguiu adotar. Enquanto isso, observa a HRW, “registra-se uma preocupante onda de violência política e contra jornalistas por parte de grupos extremistas”. A economia também vacila e precisa de financiamentos externos. O Produto Interno Bruto apresentou uma forte desaceleração no crescimento — 3,3% na primeira metade de 2025, em comparação com 11,7% registrados no ano anterior —, enquanto a inflação disparou, tornando cada vez mais difícil a subsistência diária de milhões de famílias.

Daca. Artesãs e empresárias durante o mercado "Women of Worth" para celebrar a emancipação feminina.

Daca. Artesãs e empresárias durante o mercado “Women of Worth” para celebrar a emancipação feminina.   (AFP or licensors)

Piora das condições climáticas

Os problemas econômicos são agravados pela piora, nos últimos anos, das condições ambientais. O aumento das temperaturas impacta o mercado de trabalho e a produtividade geral, como explicou um recente relatório do Banco Mundial. Segundo o “Internal Displacement Monitoring Center”, centro de análise e estudos sobre migração, nesse contexto repleto de desafios, Bangladesh está entre as regiões mais sujeitas ao deslocamento em massa da população por causa de catástrofes climáticas. Estima-se que mais de 20 milhões de “migrantes climáticos” fujam do Bangladesh nos próximos 20 anos, deslocando-se dentro do país ou emigrando para o exterior — seja para países vizinhos como a Malásia e outras nações do sudeste asiático, seja em direção a países ocidentais.

Caminhões presos durante enchente em região baixa de Bangladesh.

Caminhões presos durante enchente em região baixa de Bangladesh.   (AFP or licensors)

Esse fenômeno é explorado por redes criminosas dedicadas ao tráfico de seres humanos. Recentemente, inclusive, juízes italianos conseguiram reconstruir uma rede que leva cidadãos bengaleses até a Itália após uma etapa na Líbia. As vítimas, atraídas pela ilusão de um emprego, acabam em centros de detenção na Líbia, onde sofrem espancamentos e torturas antes de serem vendidas como escravas a outras organizações de traficantes, que as conduzem até as costas europeias.

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