Na 80ª Assembleia das Nações Unidas, realizada em Nova York, líderes mundiais precisam confrontar uma verdade inquietante: guerra e impunidade avançam, enquanto esforços pela paz e cooperação global recuam. Em 2025, o número de conflitos armados alcança níveis recordes desde o fim da Segunda Guerra Mundial, colocando a Organização das Nações Unidas diante de um cenário de desafio à sua missão de promover a paz mundial.
Contexto e desafios enfrentados pela ONU em 2025
Desde sua criação, a ONU foi concebida para “salvar gerações futuras do flagelo da guerra”, mas o ano atual revela a continuidade das hostilidades. Atualmente, existem 59 conflitos ativos ao redor do mundo, que representam não apenas emergências humanitárias, mas crises políticas profundas. O mundo atravessa uma fase de fragmentação e competição entre países, marcando uma clara mudança em relação ao tema central deste ano, “Construindo nosso futuro juntos”.
Os três polos do debate sobre o futuro da organização
Reforma burocrática e eficiência
De um lado, o sistema das Nações Unidas busca reestruturação administrativa, propondo fusões de agências, redução de mandatos e corte de pessoal para aumentar a eficiência. Apesar da importância dessas medidas, elas permanecem consideradas incrementais e insuficientes para enfrentar os desafios atuais.
Desconfiança e retaliações internacionais
Por outro lado, países como os Estados Unidos e seus aliados adotam uma postura de isolamento, retirando-se de organizações, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), e cortando recursos destinados a missões de ajuda humanitária. Essa postura enfraquece a capacidade da ONU de atuar com autonomia e eficácia, promovendo uma atmosfera de defensividade.
O papel da China e as tensões geopolíticas
Recentemente, no Fórum de Beijing, o presidente Xi Jinping afirmou que a China é o principal pilar do sistema multilateral, ao mesmo tempo em que reforçou alianças com Rússia e Coreia do Norte, países que violam regras internacionais. Essa postura evidencia o risco de um mundo cada vez mais polarizado, onde interesses nacionais prevalecem sobre a cooperação global.
Impactos nas crises humanitárias e ameaças globais
Para vítimas de conflitos como Sudão, Gaza e Ucrânia, a inação da ONU é uma fonte de desesperança. A crise no Sudão, por exemplo, afeta cerca de 30 milhões de pessoas e permanece pouco financiada — menos de 25% do necessário para aliviar a situação. Segundo análises, o discurso na Assembleia do ano passado negligenciou a questão, que foi mencionada de forma superficial entre milhares de palavras proferidas pelos membros permanentes do Conselho de Segurança.
Além disso, temas urgentes como armas cibernéticas e pandemias também demonstram a lentidão da organização. O projeto de tratado de armas de inteligência artificial avança lentamente, enquanto os investimentos em preparação para futuras pandemias voltaram ao patamar pré-COVID, deixando uma sensação de atraso na resposta às ameaças globais.
Perspectivas e o caminho adiante
Ao visitar o Sudão recentemente, testemunhei os efeitos do impasse nas negociações e da escassez de esforços coordenados, que têm permitido a escalada do conflito e a expansão da crise para países vizinhos. Para que a ONU retome seu papel de mediadora e promotora de estabilidade, é necessário um esforço conjunto, que ultrapasse disputas político-burocráticas e priorize a proteção das populações mais vulneráveis, enfrentando as ameaças de forma efetiva e coordenada.