Na abertura da 78ª Assembleia Geral da ONU, nesta semana em Nova York, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente Donald Trump poderão se cruzar no palco internacional, em meio ao agravamento das disputas entre Brasil e Estados Unidos. Ainda que não haja confirmação oficial de uma reunião bilateral, o momento promete repercutir as relações diplomáticas entre as duas nações.
Presença de Padilha nos bastidores da ONU
Recentemente, o interesse em fortalecer a diplomacia brasileira foi evidenciado pela liberação do ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, para acompanhar Lula na ONU. A presença do ministro reforça a preparação do governo para eventuais interlocuções com lideranças internacionais que possam surgir no evento.
Contexto de tensão entre Brasil e EUA na Assembleia
Historicamente, o Brasil costuma abrir os discursos na sessão plenária da ONU, mas, neste ano, as relações estão carregadas de desentendimentos. O início da crise ocorreu em julho, com a imposição de tarifas de 50% por Washington sobre produtos brasileiros, ao mesmo tempo em que o governo americano criticava publicamente ações do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Embora fontes próximas à delegação brasileira indiquem que até o momento não há planos de um encontro bilateral formal entre Lula e Trump, há uma expectativa de que os líderes possam se cruzar nos corredores do prédio das Nações Unidas, numa antessala comum aos presidentes antes e após seus discursos.
Discurso de Lula na ONU e postura diplomática
Em entrevista à BBC News Brasil, Lula afirmou que não mantém “problema pessoal com Donald Trump” e que, caso se cruzem, irá cumprimentá-lo com civismo. “Sou um cidadão civilizado. Eu converso com todo mundo, eu estendo a mão para todo mundo”, declarou.
Ainda que a possibilidade de um encontro formal seja considerada improvável, a postura do presidente brasileiro será de defesa da soberania nacional e de críticas às tarifas norte-americanas, que elevaram tensões comerciais. Lula também afirmou que uma solução para os atuais conflitos passa pelo diálogo e pela negociação, ressalvando a importância de respeitar a independência do Brasil.
Crise comercial e rupturas diplomáticas
Desde que as tarifas entraram em vigor em agosto, as relações diplomáticas entre os dois países sofreram um agravamento. Trump reagiu criticando o julgamento do STF que condenou Bolsonaro a 27 anos de prisão, enquanto Lula defende a legitimidade do Judiciário brasileiro em artigo publicado no The New York Times.
O panorama atual evidencia uma crise que extrapola o âmbito eleitoral e judicial, atingindo a esfera comercial, com o aumento de tarifas e sanções econômicas de ambos os lados. Analistas avaliam que a presença dos presidentes em Nova York será marcada, mais do que por encontros, pela demonstração de posicionamentos políticos e pela tentativa de conter a escalada do conflito.
Perspectivas para o encontro na ONU
Especialistas como Paulo Velasco, da Uerj, e Matias Spektor, da FGV-SP, apostam que o ambiente será de alta formalidade, com poucos sinais de aproximação ou diálogo direto. “Afirmar uma tentativa de conversa efetiva neste momento é improvável”, reforça Velasco. Para Spektor, os discursos devem focar na defesa de interesses domésticos, sem perspectivas de negociações concretas.
Por ora, a prioridade dos líderes é a imagem internacional, numa tentativa de manter o controle sobre uma crise que, em pouco mais de dois meses, transformou-se em uma disputa diplomática e comercial de alta complexidade entre Brasil e Estados Unidos.
Para acompanhar o desenrolar dessa situação, a expectativa é que o encontro, ou a ausência dele, revele as verdadeiras intenções de Brasília e Washington em relação às suas relações futuras e à estabilidade do cenário internacional.