O recente assassinato do ex-delegado Ruy Ferraz Fontes em Praia Grande, São Paulo, colocou em evidência a crescente influência do Primeiro Comando da Capital (PCC) no país. Com a confirmação de que o PCC foi responsável pela morte do ex-delegado, a preocupação sobre as ações da organização criminosa, que já se espalhou não apenas pelo Brasil, mas também internacionalmente, ganha ainda mais relevância. Fontes, que tinha um passado significativo no combate ao PCC, foi alvo direto no contexto da violência crescente da facção.
A trajetória do PCC e suas implicações
Fundado há mais de 30 anos em uma prisão paulista, o PCC começou como um movimento para lutar contra a opressão carcerária. Desde então, a facção evoluiu de um pequeno grupo de aproximadamente 5 mil membros, com atuação concentrada apenas em São Paulo, para uma organização criminosa considerada máfia, contando hoje com cerca de 40 mil integrantes espalhados pelo Brasil e pelo mundo.
O promotor Lincoln Gakiya, que há décadas investiga a facção, destacou a preocupação com o crescimento do PCC, que se tem infiltrado em processos licitatórios e em estruturas governamentais, com características similares às máfias conhecidas como as de países como a Itália. Gakiya sublinhou que a expansão do PCC se deu por falhas estruturais no controle e fiscalização por parte do estado nos últimos anos.
O legado de Ruy Ferraz Fontes
Ruy Ferraz Fontes, de 64 anos, havia sido um dos principais responsáveis pela prisão de Marcos Willians Herbas Camacho, conhecido como Marcola, líder do PCC. Sua morte ocorreu 20 anos após essa prisão, o que ilustra os riscos enfrentados por aqueles que se opõem à facção. Fontes, aposentado, atuava como Secretário da Administração em Praia Grande e não contava com escolta, o que pode ter facilitado o crime, evidenciando a vulnerabilidade de figuras públicas no combate ao crime organizado.
Fontes não apenas desmantelou o organograma do PCC, mas também compilou informações que se tornaram estratégicas para o enfrentamento da organização. Através do “mapa do PCC”, ele mostrou como os membros da facção operavam. Essa atuação não apenas prejudicou a estrutura criminosa do grupo, mas também colocou sua vida em perigo, com diversas ameaças que culminaram em seu assassinato.
Repercussões e esforços do governo
A morte de Fontes gerou repercussão imediata, levando autoridades a reforçar a necessidade de um combate mais eficaz ao PCC. A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) iniciou uma série de operações, investindo mais de R$ 1,1 bilhão em tecnologia e inteligência policial desde o início de 2023. As operações realizadas resultaram na apreensão de cerca de 610 toneladas de drogas e na prisão de mais de 300 mil criminosos, incluindo importantes líderes da facção.
Além disso, a SSP-SP e a Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) reiteraram seu compromisso em controlar a atuação do PCC, promovendo a integração entre as forças de segurança e reforçando operações em todo o estado. Entretanto, os promotores que atuam na linha de frente contra o PCC ressaltam que a luta ainda está longe de ser vencida, e que a falta de controle nas prisões contribui para a contínua expansão da facção.
O futuro do combate ao PCC
As preocupações sobre o crescimento do PCC e a violência associada vão além do estado de São Paulo. Afacção está presente em 28 países e se tornou uma das maiores redes de tráfico de drogas internacionais, com um faturamento anual que ultrapassa US$ 1 bilhão. O Paraguai, por exemplo, abriga um número significativo de seus membros, e há registros da presença da organização em presídios europeus.
Enquanto o governo federal e estadual trabalham em conjunto para intensificar o combate às organizações criminosas, observações feitas por promotores alertam que é necessário um olhar crítico sobre as falhas do passado. A luta contra a criminalidade organizada no Brasil não é apenas uma questão de segurança pública, mas também envolve a construção de políticas claras e efetivas que impeçam a ascensão de facções como o PCC.
A morte de Ruy Ferraz Fontes é um lembrete sombrio da realidade enfrentada por aqueles que estão na linha de frente do combate ao crime organizado, e destaca a urgência de um esforço coordenado e eficaz para enfrentar essa verdadeira máfia que se instalou no Brasil.