Nesta segunda-feira, a congressista republicana Marjorie Taylor Greene, representante pelo estado da Geórgia, divulgou uma proposta alarmante de realizar uma “divisão nacional” dos Estados Unidos após o assassinato de Charlie Kirk, uma figura influente do movimento conservador. A declaração gerou preocupação por parte de especialistas em ciência política e líderes que alertam sobre o potencial de violência dessa ideia, que remete a episódios históricos de conflito no país.
Greene e a proposta de uma divisão pacífica — ou não?
Greene usou sua rede social X, antiga Twitter, para afirmar que “não há mais o que conversar com a esquerda”, acusando o lado oposto de celebrar a morte de Kirk, que foi vítima de um disparo durante um ato de violência. Em uma publicação, ela sugeriu que uma divisão dos Estados Unidos — “divórcio das nações” — seria uma solução para o país, exemplificando que “países como Califórnia e Nova York” estariam destruindo a estabilidade de estados como Flórida.
Histórico e riscos de uma divisão definitiva
Especialistas alertam que declarações como as de Greene possuem precedentes históricos perigosos. Ryan Griffiths, professor de Ciência Política na Universidade de Syracuse, explica que tentativas de dividir o país, como ocorreu na Guerra Civil dos anos 1860, não resultaram em processos pacíficos. “A ideia de uma separação irreconciliável ignora a história violenta de secessões e a profunda interconexão política e geográfica dos americanos”, afirma.
De acordo com Griffiths, a polarização crescente não justifica uma ruptura, que poderia desencadear ciclos de violência, deslocamento populacional e instabilidade jurídica. Para ele, o caminho adequado é buscar pontos em comum e promover um diálogo nacional para aliviar tensões.
Risco real de uma nova guerra civil?
Alvin B. Tillery Jr., professor da Northwestern University, destaca que o discurso de Greene e de outros políticos que defendem a secessão remete aos temas da secessão da década de 1860, reforçando uma narrativa de “Neo-secessionismo”. “Esse tipo de linguagem é perigosa, pois alimenta o ódio e fortalece os movimentos extremistas”, diz Tillery, que também alerta para o aumento de ameaças e grupos de supremacia branca associados a essas posições.
De acordo com o especialista, em consequência das declarações de Kirk, comunidades acadêmicas e líderes civis vem recebendo ameaças de morte. “A linguagem de divisão nacional encoraja a intolerância e representa uma ameaça real à estabilidade social.”
Repercussões e o alerta da comunidade internacional
Comentando o contexto, a jornalista e analista Mehdi Hasan, em 2021, considerou Greene uma “ameaça séria à democracia”, após ela sugerir que pessoas de estados considerados “azuis” deveriam passar por uma “período de contenção” antes de votar, postura que reforça pontes com ideais secessionistas.
Para diversos estudiosos, a narrativa de Greene e de figuras similares não representa apenas um discurso radical, mas uma ameaça concreta à democracia americana, que vive um momento de crise de polarização. Como ressalta Griffiths, “é fundamental que os líderes rejeitem extremismos e trabalhem para unir o país, antes que a divisão evolua para um conflito aberto”.
Enquanto isso, especialistas acompanham de perto a evolução do debate, alertando que propostas de secessão, mesmo que em tom de discurso, podem acelerar uma crise sem retorno, semelhante ao que ocorreu na história do país há mais de um século.