Milhares de pessoas marcharam neste domingo (21), na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, para protestar contra os projetos da anistia aos golpistas e da blindagem de parlamentares. A passeata ocupou as seis faixas do Eixo Monumental, demonstrando a importância da mobilização cidadã em defesa da democracia.
Um protesto significativo
Sob um sol forte, a multidão seguiu em marcha atrás de um pequeno trio elétrico, logo após uma série de rimas e discursos de lideranças políticas do Distrito Federal (DF). O trajeto de cerca de 1,5 quilômetro culminou na frente do Congresso Nacional, onde o cantor e compositor Chico César encerrou o ato com alguns de seus sucessos. O ato ocorreu das 9h às 14h, reunindo manifestantes de diferentes origens e motivações.
Com o mote “Congresso Inimigo do Povo”, os manifestantes gritavam frases de ordem como “sem anistia” e “queremos Bolsonaro na cadeia”, em referência à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) apelidada de “PEC da Bandidagem”, que visa a blindagem de parlamentares. Segundo essa proposta, a abertura de processos judiciais e investigações contra parlamentares precisaria ser aprovada pela maioria das próprias casas legislativas, o que gera grande preocupação entre os cidadãos.
Indignação nas vozes da população
A bancária Keyla Soares, de 42 anos, expressou sua indignação à Agência Brasil em relação à proposta que exige autorização prévia do Parlamento para processar criminalmente deputados e senadores. “É uma sem vergonhice. É ofensiva essa PEC. Eles só trabalham em defesa deles mesmos. O Brasil tem que se unir contra isso. Estamos lutando também pela democracia”, disse Keyla.
O presidente da Câmara, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), foi um dos principais alvos dos manifestantes, que expressaram sua insatisfação através de cartazes como “Motta Capacho” e “Centrão ladrão”. Como presidente da Casa, Motta tem a responsabilidade de definir a pauta de votações, incluindo a PEC e a anistia em sua programação.
A estudante Sara Santos, de 26 anos, também criticou a PEC, classificando-a como um absurdo e expressando sua incredulidade em relação à sua aprovação. “Depois de tudo que a gente viveu com a ditadura militar, não podemos aceitar anistia contra quem atacou a democracia e tentou dar um golpe de Estado”, justificou.
Reflexões sobre o passado e o futuro
A delegada aposentada Maria Lúcia de Souza, de 62 anos, comentou sobre a intenção do ex-presidente Jair Bolsonaro de se perpetuar no poder desde o início de seu governo. “Estão subestimando nossa inteligência. Acha que somos burros. Na semana que saem notícias de suposto envolvimento do Rueda [presidente do União Brasil] com o PCC, eles aprovam essa PEC da Bandidagem. Estou revoltada”, afirmou.
Maria Lúcia se refere a reportagens que relatam uma suposta conexão entre o presidente nacional do partido União Brasil, Antonio Rueda, e a organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). Rueda e o partido negam as acusações, mas o clima de desconfiança e revolta continua entre os manifestantes.
O servidor público Albert Scott, de 47 anos, se juntou ao coro contra a anistia, dizendo que não deve haver perdão para aqueles que planejaram e financiaram a tentativa de golpe de Estado. “É inaceitável. É um retrocesso essa PEC. Eles só votam por eles mesmos para se proteger da Justiça. Isso é absurdo”, afirmou.
Protestos em todo o Brasil
As manifestações não se limitaram apenas a Brasília. Atos contra a anistia dos condenados por tentativa de golpe de Estado e contra a PEC da Blindagem ocorreram em todo o país neste domingo, com protestos em ao menos 33 cidades, incluindo todas as capitais brasileiras.
Convocadas pelas frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular, ligadas ao PSOL e PT, as manifestações contaram com a presença de sindicatos, grupos estudantis, artistas e movimentos sociais, como MST e MTST, além de outros partidos de esquerda e centro-esquerda. Essa mobilização demonstra o crescente descontentamento da população com questões políticas que, segundo muitos, ameaçam a democracia e os direitos individuais no Brasil.
Com um forte apelo por união e resistência, os manifestantes deixaram claro que a luta em defesa da democracia e da justiça continuará, e que eles estão dispostos a enfrentar quaisquer tentativas de retrocesso em seus direitos.