A ambição e os riscos por trás do crescente uso de narco-submarinos para o tráfico de drogas têm se tornado cada vez mais palpáveis. Com relatos de viagens insanas de marinheiros que se aventuram em embarcações subaquáticas, a polícia brasileira se depara com um mistério: quem são essas pessoas dispostas a arriscar suas vidas em missões tão perigosas? A última operação da polícia federal revela um dos principais objetivos dessa prática ilícita: transportar centenas de milhões de toneladas de cocaína da América do Sul para a Europa.
O que é um narco-submarino?
Os narco-submarinos, oficialmente conhecidos como semissubmersíveis, são embarcações feitas à mão que navegam logo abaixo da superfície, mantendo apenas o cockpit visível. Desde a década de 1980, traficantes colombianos têm utilizado essas engenhocas para contrabandear cocaína pelo Caribe, mas recentemente seus objetivos se tornaram mais ambiciosos, alcançando as costas de Portugal e Espanha com cargas significativas.
Fernando Casarin, chefe da polícia federal, destaca a coragem – ou a falta dela – dos marinheiros. Ele afirma que os lucros astronômicos do tráfico de cocaína são a principal razão pela qual os criminosos sul-americanos continuam a usar esses submarinos, apesar dos riscos envolvidos. Um quilo de cocaína pode ser comprado na fronteira do Brasil com a Colômbia por cerca de R$ 5.000, enquanto na Europa pode ser vendido por até R$ 312.000. Isso faz com que um eventual sucesso na missão pode render lucros de até R$ 1,25 bilhão.
A operação que revelou o narco-submarino no Brasil
No mês de setembro deste ano, a polícia brasileira interceptou um narco-submarino em uma doca secreta na ilha de Marajó, revelando a complexidade e o alcance do tráfico de drogas. Essa captura foi um marco e chamou a atenção para a crescente atividade de narco-submarinos partindo da Amazônia. Com a crescente pressão das forças de segurança, agora os laços entre o turismo e o tráfico estão cada vez mais evidentes. O crescimento nas operações do tráfico está diretamente relacionado ao aumento do consumo da droga na Europa.
A condição dos tripulantes
A bordo do narco-submarino, as condições de vida são precárias. O espaço necessário para a tripulação é apertado e claustrofóbico. Casarin comparou a perigosa expedição dos traficantes às missões dos astronautas que foram à lua: “É um nível de loucura comparável. Essa é uma vida de pirata.” Os marinheiros enfrentam ainda o risco de asfixia devido a um motor potente e mal projetado, com gases de combustão que podem facilmente invadir o ambiente fechado.
A ascensão e a globalização dos narco-submarinos
Javier Romero, um jornalista espanhol que tem documentado a atividade dos narco-submarinos, observou um aumento significativo nas operações nos últimos meses. Em 2019, as autoridades confirmaram a existência de rotas marinhas para o tráfico, com várias apreensões de embarcações, incluindo uma captura em 2024 que chamou a atenção internacional.
A evidência mostra que a indústria dos narco-submarinos não está limitada a uma única região, já que novas rotas de tráfico estão se expandindo globalmente, incluindo viagens ao Oceano Pacífico e além. O que começou como operações limitadas agora envolve redes complexas que se estendem através de continentes.
As consequências sociais
Além do dinheiro e do poder que o tráfico de drogas gera, a indústria é caracterizada pela exploração. Casarin alertou que a quantidade paga aos marinheiros é irrisória em comparação com os lucros enormes obtidos pelos chefes do tráfico. Estima-se que os marinheiros ganham entre R$ 30.000 e R$ 50.000 por viagem, sendo um pagamento baixo pelo risco extremo envolvido.
O futuro do tráfico por narco-submarinos
Com o aumento das apreensões e da pressão das forças de segurança, os condutores de narco-submarinos podem encontrar alternativas mais discretas ou novas rotas. No entanto, fica claro que a luta contra essa forma de tráfico continuará. À medida que novas tecnologias emergirem e o consumo de drogas continuar a crescer, os desafios para as autoridades aumentam. O cenário atual é ao mesmo tempo impressionante e alarmante, destacando a necessidade de esforços contínuos para combater essa transmigrante e traiçoeira indústria de contrabando.
O mistério que envolve as vidas dos marinheiros que operam esses submarinos continua, assim como as perguntas sobre o que os leva a aceitar tais riscos. As respostas ainda precisam ser descobertas, enquanto a guerra contra o tráfico de drogas parece longe do fim.
