Estreado no Festival de Toronto em setembro, o documentário “Nuns vs. The Vatican” aborda as acusações de abuso sexual, psicológico e espiritual contra Father Marko Rupnik, co-fundador da Comunidade Loyola na Eslovênia, e questiona a resposta da Igreja Católica às vítimas ao longo de décadas.
Histórias de abuso e proteção institucional
O filme traz o relato de Gloria Branciani, ex-membro da Comunidade Loyola, que acusa Rupnik de abusos sexuais e psicológicos na década de 1990, relacionando suas ações à sua arte religiosa. Branciani afirma que seus relatos foram ignorados e que ela foi punida pela liderança do grupo, incluindo Ivanka Hosta, então madre superiora, e o cardeal jesuíta Tomáš Špidlík, que teria intermediado sua resignação.
Também aparece a voz de Klara, outra ex-membro da mesma comunidade, que detalha o ambiente na época, além de especialistas em abuso clerical, como Barbara Dorris, ex-diretora do Survivors Network of those Abused by Priests (SNAP).
O encarceramento da justiça e resposta da Igreja
Segundo o documentário, Rupnik permaneceu ativo na Igreja, com destaque no cenário litúrgico europeu desde os anos 1990, mesmo após denúncias internas não resolvidas. Somente com o aumento da pressão pública, ele foi submetido a um processo canônico, após anos de alegações de proteção por parte do Vaticano.
Diretora do filme, a italiana Lorena Luciano, destaca a ausência de participação oficial do Vaticano na produção, embora a equipe busque exibir a obra em festivais ao redor do mundo e, eventualmente, na própria Igreja. A reportagem indica que, após reuniões com o Pontifício Conselho para a Proteção dos Menores, o Vaticano retirou obras de Rupnik de seus canais oficiais, incluindo o Vatican News.
Reações e perspectivas
A porta-voz do Survivors Network, Sarah Pearson, defende que “a história de Rupnik evidencia o catástrofe de proteção que ocorre quando a hierarquia eclesiástica prioriza a blindagem ao invés do cuidado às vítimas.” Ela destacou que, apesar das denúncias, Rupnik foi protegido por anos, apenas sendo confrontado por uma ação pública prolongada.
Na produção, o filme conta com a direção de Lorena Luciano e produção de Filippo Piscopo, com participação entre os executivos de Mariska Hargitay, estrela de “Law and Order: Special Victims Unit”.
Próximos passos e impacto na Igreja
O documentário continuará sendo exibido em festivais na América do Norte, e há planos de uma exibição no Vaticano. A equipe indica que aguarda uma possível intervenção do Papa Leo na investigação, que pode resultar em um tribunal eclesiástico ainda neste ano.
Desde junho, o Vaticano já evidenciou mudanças, removendo imagens religiosas de Rupnik de seus canais oficiais, após encontro do Papa com o Comitê Pontifício para a Proteção dos Menores, sinalizando uma crescente preocupação com os casos de abuso e a falta de medidas eficazes de combate por parte da instituição religiosa.