A votação da chamada PEC da Blindagem, aprovada na terça-feira pela Câmara dos Deputados, gerou intensa repercussão nas redes sociais, resultando em uma pressão significativa sobre os parlamentares. Desde artistas a entidades da sociedade civil, muitos se manifestaram contra a medida, levando até mesmo deputados que a apoiaram a reconsiderar suas posições e, em alguns casos, a pedir desculpas publicamente pelos votos dados.
A resposta das redes sociais e a mobilização popular
Segundo um levantamento da consultoria Bites, o movimento de rejeição à PEC da Blindagem mobilizou cerca de 1,6 milhão de menções nas redes sociais, com a maioria proveniente da plataforma X. A análise indicou que a esquerda dominou a discussão, mesmo que sem tanto engajamento de perfis menos envolvidos com a política, como ocorreu em debates anteriores envolvendo figuras como o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Um exemplo claro dessa mobilização foi a declaração da deputada Silvye Alves (União-GO), que confessou ter mudado seu voto para a PEC após receber ameaças de pessoas influentes. Em um vídeo compartilhado no Instagram, a parlamentar disse: “Votei contra, mas fui covarde e cedi à pressão”. Essas palavras ilustram bem a pressão que muitos parlamentares enfrentaram ao longo do processo de votação.
Os arrependimentos e as justificativas dos deputados
Outro parlamentar que se manifestou foi Merlong Solano (PT-PI), que justificou seu voto a favor da PEC como uma tentativa de “ajudar a impedir o avanço da anistia”. Contudo, ele também reconheceu que o acordo político não teve o efeito desejado e anunciou que protocolou um mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF) para anular a votação.
O deputado Pedro Campos (PSB-PE), por sua vez, se explicou nas redes sociais, afirmando que o campo progressista optou por discutir o texto e tentar remover os pontos mais problemáticos da PEC. Ao final, ele também reconheceu que a estratégia não foi a mais eficaz e que a PEC passou com várias manobras que foram contra o que eles desejavam.
Thiago de Joaldo (PP-SE) é outro exemplo de parlamentar que se retratou, explicando que se deixou influenciar por comentários e análises que recebeu, chegando a admitir: “Reconheço que falhei e peço desculpas”. Essas confissões revelam como a pressão das redes sociais pode impactar as decisões políticas e a accountability dos representantes.
A influência e os resultados da mobilização nas redes
A pressão popular, segundo André Eler, diretor-adjunto da Bites, teve não apenas um impacto no âmbito da Câmara, mas também ajudou a consolidar uma oposição no Senado. Isso inclui parlamentares de direita, que também se mostraram críticos à proposta. O fenômeno é notável, visto que vitórias da esquerda nas redes sociais são raras, demonstrando a relevância do movimento que, embora restrito, adquiriu um significado maior nesse contexto.
Artistas conhecidos, como Anitta e Caetano Veloso, também contribuíram para a mobilização. Caetano se referiu à proposta como a “PEC da Bandidagem”, convocando manifestações populares contra a iniciativa. Esse apoio de figuras de destaque evidencia como a cultura e a política se entrelaçam, particularmente em momentos de crise na legislação.
Além disso, um estudo da consultoria Arquimedes mostrou que 89% dos perfis que discutiram a PEC pertenciam ao campo progressista, enquanto apenas 4% eram de direita não bolsonarista, crítica ao texto, e os bolsonaristas representaram apenas 7% do debate. A maioria das críticas focou na necessidade de um acordo que favorecesse a anistia.
Conclusão: as lições da votação da PEC
Apesar da diminuição da pressão nas redes nos dias seguintes à votação, o episódio mostra claramente como a opinião pública pode moldar decisões políticas. O embate sobre a PEC da Blindagem é um exemplo do poder das redes sociais, destacando a importância da mobilização cidadã e a responsabilização de políticos. Seguir em frente e buscar mais transparência nas decisões legislativas parece ser uma lição crucial e necessária para o futuro da política brasileira.