O apito final em Natal, no último dia 7 de setembro, foi um grito de independência em tons corais. O Santa Cruz havia acabado de superar o América-RN nas quartas de final da Série D, garantindo finalmente a saída da divisão onde havia sido rebaixado em 2021, um período marcado por dificuldades significativas. A trajetória do clube pernambucano se assemelha a um calvário, tendo enfrentado um rebaixamento ágil que o levou ao fundo do poço do futebol brasileiro.
O caminho até a semifinal
Com o jogo decisivo da semifinal da Série D agendado para hoje, às 19h30, contra o Maranhão na Arena de Pernambuco, o Santa Cruz chega com vantagem após vencer o primeiro jogo por 1 a 0 fora de casa. A busca pelo título da quarta divisão, embora importante, parece secundária frente ao cumprimento do objetivo principal do ano: voltar a competir em divisões superiores do futebol brasileiro.
Resiliência após um ano difícil
O acesso à Série C é mais do que merecido após um ano onde o clube ficou sem calendário de competições nacionais. Em 2024, o Santa Cruz disputou apenas 13 jogos, muitos deles no Campeonato Pernambucano, e interrompeu suas atividades em março. Sua última participação na Série A foi em 2016, quando terminou rebaixado e iniciou um período de declínio.
“Era mais que necessário o acesso”, comentou Bruno Rodrigues, presidente do clube, sobre a necessidade de reerguer a instituição. Ao assumir a presidência em novembro de 2023, Rodrigues tinha duas missões claras: unir as correntes políticas do Santa Cruz e implementar a SAF (Sociedade Anônima do Futebol) até o fim do seu mandato.
Navegando nas turbulências financeiras
Atualmente, o Santa Cruz enfrenta desafios financeiros, estando em recuperação judicial com uma dívida que gira em torno de R$ 250 milhões. No momento da posse de Rodrigues, o cenário era preocupante: o clube contava com apenas três jogadores no elenco e os funcionários enfrentavam atraso de pagamentos que somavam sete meses. “Existem duas coisas: credibilidade e crédito. Na época, o Santa estava sem as duas”, relembra Rodrigues. Sob sua administração, não houve atraso salarial e os compromissos começaram a ser cumpridos regularmente.
Perspectivas promissoras com a SAF
O horizonte começou a se clarear em 2025. Após parar novamente na semifinal do estadual para o Sport, a diretoria do Santa Cruz montou um time mais competitivo sob a orientação do treinador Marcelo Cabo, destacando o atacante Thiago Galhardo. O início do ano também trouxe a formalização de uma proposta para vender 90% da SAF a um grupo mineiro, que promete investir R$ 1 bilhão nos próximos 15 anos.
Para a torcida, o jogo contra o América-RN, onde o Santa garantiu a semifinal da Série D, marcava um novo começo. A comemoração foi em grande estilo, com torcedores invadindo a piscina do Arruda, que atualmente tem capacidade reduzida a cerca de 30 mil pessoas. Com o aporte da SAF, a promessa é de revitalização do estádio, com investimentos superiores a R$ 100 milhões nos próximos três anos.
Planos de expansão e consolidação
A previsão é que o orçamento da Série C de 2026 seja de R$ 36 milhões, aumentando para R$ 52 milhões na Série B e R$ 100 milhões na Série A, se o clube retornar a estas divisões. Entretanto, a gestão de Rodrigues não deseja deixar o clube desprotegido no contrato. “Colocamos uma cláusula chamada bônus de subscrição, onde qualquer investimento que não for cumprido significa que o Santa Cruz retoma a SAF. É uma proteção”, explica Rodrigues, que lidera o processo de transição para formalizar a SAF até o final do ano.
O futuro à vista
O Santa Cruz vislumbra um futuro mais promissor, mirando novamente em conquistas no Campeonato Pernambucano, após um jejum que perdura desde 2016. Além disso, há o direito de participar da Copa do Brasil e da Copa do Nordeste, fortalecendo ainda mais sua posição no cenário do futebol nacional. Se o time eliminar o Maranhão hoje, a final poderá ser contra o Inter de Limeira (SP) ou o Barra (SC), o que seria mais um marco positivo na busca por um futuro melhor.
Apesar das dificuldades passadas, Bruno Rodrigues acredita que “o pior já passou”. O presidente está confiante de que o Santa Cruz está a caminho do protagonismo no futebol nordestino e brasileiro. “Em 2026, estaremos disputando a Série C com estrutura que nunca tivemos antes e nosso objetivo é subir imediatamente”, afirma Rodrigues, revelando um verdadeiro espírito de resiliência e esperança para os torcedores do Santa Cruz.