No Brasil, a safra do mel enfrenta um momento crítico, com os preços do produto em queda, gerando preocupações entre os apicultores. Principalmente, os exportadores têm criticado a demora do governo federal em oferecer o apoio necessário após a recente imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros pelo governo dos Estados Unidos, que ocorre desde o dia 6 de agosto. Esse cenário tem gerado um clima de apreensão no setor, que luta para manter o fluxo de vendas diante do aumento dos custos e perda de poder de negociação.
Desafios enfrentados pelos apicultores
Renato Azevedo, presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Mel (Abemel), destacou a situação delicada em que se encontram os apicultores. Segundo ele, a falta de linhas de crédito específicas é um dos principais obstáculos que o setor enfrenta neste momento. “A questão tem sido essa, a demora da chegada da linha de crédito”, afirmou ao portal g1. O impacto negativo da tarifa imposta pelos EUA fez com que a situação fosse ainda mais complicada para empresas de destaque, como o Grupo Sama, do Piauí, que se posiciona como o maior produtor de mel orgânico da América do Sul.
Reações das principais empresas
Samuel Araújo, CEO do Grupo Sama, expressou sua frustração com a inatividade do governo. Em suas palavras, “não podemos perder espaço no mercado americano, e tampouco deixar de cumprir os contratos. Onde está a ajuda do governo? Até agora nada aconteceu. Se não nos organizarmos para manter as vendas, a produção estará liquidada”. O grupo, mesmo com dificuldades, tem continuado a negociar com clientes e feito alguns embarques, porém, abaixo do volume necessário.
As complicações enfrentadas também estão relacionadas ao preço do mel, que, mesmo com a demanda reduzida, não caiu em razão da diminuição da produção. O CEO do Grupo Sama relatou: “Os clientes querem pagar menos pelo mel, mas os preços no campo não caíram devido à baixa produção. É uma situação de forte pressão sobre a nossa atividade”.
O papel do governo e as medidas propostas
Em resposta às críticas do setor, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) informou que o plano Brasil Soberano lançou linhas de crédito de R$ 40 bilhões com juros reduzidos para empresas impactadas pela tarifa imposta. “Essas linhas devem começar a ser operadas pelo BNDES nesta semana – e poderão ser usadas para capital de giro, prospecção e abertura de novos mercados, investimentos em linhas de produção e diversificação tecnológica”, afirmou o ministério em nota.
Entretanto, o presidente da Abemel alerta que a restituição de créditos tributários prometida pelo governo para empresas exportadoras ainda não avançou, pois depende da aprovação do Congresso Nacional. Além disso, o MDIC afirmou que outras medidas, como o diferimento de impostos e a antecipação do drawback, estão disponíveis para ajudar a mitigar os custos para as empresas exportadoras.
Propostas para o futuro do setor
Renato Azevedo também abordou os desafios de médio e longo prazo que o setor precisa enfrentar. Segundo ele, é imprescindível focar em aumentar o consumo de mel no mercado interno, uma vez que, atualmente, a média per capita no Brasil gira em torno de 170g por ano, em contraste com países como os EUA e na Europa, onde esse consumo supera as 400g. “Se conseguíssemos chegar nesse nível de consumo no mercado interno, diminuiríamos a dependência do mercado americano”, destacou.
Azevedo também defende a necessidade de agregar valor ao mel brasileiro, citando o sucesso da Nova Zelândia com o Mel de Manuka, que alcança valores em torno de US$ 25 mil a tonelada. “Nosso mel orgânico no Brasil tem potencial para fazer o mesmo tipo de trabalho, mas é algo de longo prazo”, concluiu.
E ele reconhece que, embora o governo tenha sido pego de surpresa pela tarifa, é vital que medidas efetivas e de longo prazo sejam consideradas para garantir a recuperação e o fortalecimento do setor. “Não podemos criticar qualquer ajuda que seja, mas os desafios que têm potencial para mudar o nosso setor estão no médio e longo prazo”, afirmou Azevedo.
Por fim, a situação atual dos apicultores e a busca por soluções eficazes continua a ser uma das principais questões para os envolvidos na indústria do mel no Brasil.