Em 2003, o Líbano vivenciou um evento singular no mundo do futebol ao se preparar para receber um amistoso entre o Nejmeh, um dos mais tradicionais clubes locais, e o Flamengo. No entanto, a delegação brasileira que desembarcou não era exatamente a esperada pelos torcedores libaneses. O time que realmente veio ao Oriente Médio era o Flamengo de Guarulhos, o que originou uma série de confusões e expectativas não correspondidas.
A trajetória do Flamengo de Guarulhos
O Flamengo de Guarulhos, fundado em 1954 na cidade paulista com o mesmo nome, nunca conseguiu se destacar em competições nacionais. Com uma breve ascensão em 2002, quando alcançou a fase final da segunda divisão do Campeonato Paulista, o clube não conseguiu o acesso e enfrentou mais um ano sem competição, o que acabou facilitando o convite para uma excursão ao Líbano.
O presidente do Flamengo de Guarulhos à época, Ricardo Beires, relatou que a comitiva libanesa liderada pelo então primeiro-ministro Rafic Hariri veio ao Brasil buscando promover um intercâmbio cultural e esportivo. O convite incluía três amistosos, sendo um deles em Beirute, outro em Damasco e um terceiro em Dubai. O cachê de 60 mil reais por jogo era um atrativo considerável.
A confusão do nome
Beires recorda que, antes mesmo da viagem, surgiram dúvidas significativas entre os organizadores libaneses, que acreditavam que o “Flamengo do Brasil” que eles estavam promovendo era a famosa equipe carioca. Isso gerou um mal-entendido que culminou na confusão entre os dois clubes. Para tentar esclarecer, Beires distribuiu cartões com informações sobre o Flamengo de Guarulhos, mas isso não evitou que apenas o amistoso no Líbano se concretizasse, com as partidas na Síria e em Dubai sendo canceladas.
Um craque em campo: Bebeto
Mesmo com as confusões da delegação, o amistoso no Líbano contou com uma atração especial: o ex-jogador da Seleção Brasileira, Bebeto. Embora já aposentado, Bebeto aceitou o convite para aparecer e jogar, o que garantiu uma boa dose de emoção ao evento. O planejamento era que ele jogasse um tempo pelo Nejmeh e o outro pelo time guarulhense.
O Nejmeh, fundado em 1945, possui uma rica história e já contou em seu elenco até mesmo com o Rei Pelé, o que apenas aumentava a expectativa pelo jogo. A presença de Bebeto, que também deixaria um legado ao clube libanês, tornava o evento ainda mais significativo.
A grande partida
O amistoso aconteceu no Estádio Camille Chamoun Sports City, o maior do Líbano, com capacidade para quase 50 mil espectadores. No início do jogo, Bebeto demonstrou habilidade ao lado de outros jogadores, mas, com a saída de Moussa Hojeij, o Flamengo de Guarulhos começou a dominar a partida. Aos 30 minutos do primeiro tempo, Carlos Clay e Fabrício impulsionaram o time brasileiro para uma vantagem de 2 a 0.
Apesar do esforço de Beires para reunir a equipe para fotos com Bebeto durante o intervalo, o jogo seguia sem surpresas. No segundo tempo, mesmo após a substituição de Bebeto, o Flamengo de Guarulhos marcou mais um gol com Adriano, fechando a partida em 3 a 0.
Uma experiência inesquecível
O saldo do amistoso, ainda que uma confusão envolvendo os nomes e identidades das equipes, foi positivo. Ricardo Beires, embora desapontado com o cancelamento das outras partidas, valorizou a experiência única de levar o futebol brasileiro ao Líbano e exibir as cores do Brasil e de Guarulhos em campo.
“Foi muito bonito ver o time entrando em campo no Oriente Médio com as bandeiras de Guarulhos e do Brasil”, refletiu Beires, ressaltando o valor simbólico do futebol como uma ferramenta de união entre culturas.
O jogo entre Flamengo de Guarulhos e Nejmeh permanece vivo na memória dos que puderam acompanhar este amistoso histórico, demonstrando como o esporte pode criar conexões inesperadas e proporcionar momentos memoráveis em lugares inesperados.
