Brasil, 18 de setembro de 2025
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Igreja e riqueza: como o cristianismo enxerga o acúmulo de fortunas

Debate sobre o acúmulo de riquezas no cristianismo revela preocupações com desigualdade e uso responsável do dinheiro

Recentemente, uma declaração do Papa Leão sobre os perigos de Elon Musk se tornar o primeiro trilionário reacendeu o debate sobre a visão do cristianismo acerca do acúmulo de riquezas. Como a Igreja Católica interpreta a concentração de fortunas e seus impactos sociais?

Doutrina Social da Igreja e o perigo das grandes fortunas

Segundo o professor Gerson de Moraes, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, a Doutrina Social da Igreja, formulada no final do século XIX, orienta uma reflexão equilibrada sobre o tema. “A concentração de riquezas pode gerar despotismo, injustiça e exploração”, explica. Essa preocupação é reforçada por dados do IBGE, que apontam que os 0,01% mais ricos no Brasil possuem, em média, R$ 151 milhões de patrimônio líquido cada.

Riqueza: uma bênção ou uma maldição?

Gerson destaca que o problema não está na existência da riqueza, mas na forma como ela é administrada. “A riqueza pode ser uma bênção, se utilizada de modo responsável, ou uma maldição, se mal gerida”, afirma. Para o teólogo, a questão fundamental é o uso que se faz do dinheiro, associando-o ao perigo de se tornar uma divindade, conforme alertam os evangelhos.

Jesus, por exemplo, falou mais sobre dinheiro do que sobre qualquer outro tema além do Reino de Deus, e o apóstolo Paulo advertiu que “o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males”.

Desigualdade social e o papel da Igreja

Para a Igreja, o acúmulo de riquezas não pode ser desvinculado da questão da desigualdade social, considerada uma afronta à justiça. “Toda riqueza nasce do fruto do trabalho de alguém, e sua concentração está relacionada à exploração”, explica Gerson. Dados do IBGE mostram que, em 2022, os 10% mais ricos tiveram rendimento 14,4 vezes maior do que os 40% mais pobres, evidenciando o desafio social.

Na visão da Igreja Católica, a caridade se torna uma ferramenta de reparação diante de um cenário de injustiça. “A caridade é uma consequência da justiça, uma forma de devolver às pessoas aquilo que lhes é de direito”, afirma a organização.

Risco de idolatria e o alerta de Jesus aos ricos

A tensão entre riqueza e fé é ilustrada na passagem bíblica onde Jesus afirma: “É mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus”. Para Gerson, essa metáfora indica o perigo de substituir Deus por bens materiais. “Quem deposita suas expectativas no dinheiro, corre o risco de fazer dele o seu senhor”, explica.

Entretanto, Gerson ressalta que a riqueza, por si só, não condena o indivíduo, mas o que ele faz dela. “Se o coração está nas riquezas, há um perigo maior. A chave está na administração responsável e na prioridade dada ao espiritual”, conclui.

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