O dólar na Argentina voltou a subir nesta terça-feira (18), chegando ao limite máximo da banda cambial após a primeira intervenção direta do Banco Central (BC) do país desde o pacote de socorro do Fundo Monetário Internacional (FMI) em abril. A moeda americana atingiu aproximadamente 1.474,50 pesos na cotação oficial, após o BC vender US$ 53 milhões no mercado de câmbio, conforme dados divulgados no fim do dia.
Intervenção no câmbio e impacto no mercado argentino
A intervenção marcou uma mudança na política cambial do governo de Javier Milei, que adotou um regime de banda cambial para tentar liberalizar seu mercado de câmbio altamente controlado há décadas. Segundo o entendimento do FMI, as autoridades podem atuar diretamente quando as cotações ultrapassam o limite superior ou inferior da banda, que neste momento está sendo ampliada a uma taxa de 1% ao mês em cada direção.
Apesar de o BC negar rompimento formal da banda, os dados mostram que o peso atingiu o limite superior, levando à intervenção. Na prática, o sistema oficial de cotação só permite negociações de dólar de até duas casas decimais — ou seja, variações de 50 centavos— o que faz o Banco Central arredondar a cotação acima do limite na operação de mercado.
Cenário econômico e tensões no mercado argentino
Esse movimento reflete as crescentes tensões no mercado argentino, com o risco-país atingindo 1.337 pontos, o maior em um ano, e as ações sendo negociadas em forte queda. Além disso, dados oficiais indicaram que o PIB do país recuou 0,1% no último trimestre, ampliando o clima de instabilidade econômica sob o comando de Milei.
A necessidade de defender o peso no limite da banda tem um custo elevado, uma vez que as reservas internacionais do Banco Central ainda estão muito baixas, obrigando o governo a equilibrar esforços de contenção da inflação e preservação de reservas para pagamento de dívidas, inclusive ao FMI. Analistas alertam que a manutenção do câmbio no teto pode ser sustentável a curto prazo, mas aumenta o risco de uma eventual desordem cambial.
Perspectivas e próximos passos na política cambial
Especialistas avaliam que a continuidade das intervenções é provável, especialmente com o contexto das eleições parlamentares em 26 de outubro, que reforçam a busca por estabilidade política e econômica. Segundo o estrategista do BBVA em Nova York, Alejandro Cuadrado, “é preciso avançar na flexibilização, ajustando a banda de forma ordenada para evitar uma crise cambial maior”.
Por outro lado, investidores manifestam preocupação com as altas perdas das reservas e a dificuldade de manter o peso na banda sem uma política de ajuste mais profundo, incluindo possíveis ajustes na taxa de câmbio mais acelerados ou maior flexibilização, para evitar um colapso cambial.
Com a rejeição dos vetos de Milei para projetos de aumento de gastos com universidades e saúde, o ambiente político permanece instável, aumentando a pressão sobre o governo e refletindo na deterioração da avaliação do presidente, cujo índice de desaprovação atinge recordes recentes.
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