No dia 16 de setembro, a Faculdade de Educação e Comunicação de Moçambique, em Nampula, foi o palco do simpósio em celebração dos 65 anos da revista Vida Nova. O evento, que também marcou o lançamento do livro comemorativo “Vida Nova: uma voz profeta em Moçambique”, contou com a presença de centenas de participantes, entre sacerdotes, religiosas, missionários, leitores da revista, corpo docente e estudantes. O destaque do evento foi a intervenção de Dom António Constantino, Presidente da Comissão para as Comunicações da Conferência Episcopal de Moçambique (CEM) e Bispo auxiliar da Beira.
A importância da comunicação na missão evangelizadora
Dom António Constantino abordou a temática “Os meios de comunicação na missão evangelizadora da Igreja em Moçambique: fundamentos, desafios e perspetivas”. No seu discurso, o prelado enfatizou que “evangelizar é comunicar” e traçou um panorama histórico desde a Rádio Pax, em 1955, até a revista Vida Nova, em 1959. Ele relembrou que a Igreja sempre utilizou meios de comunicação para evangelizar e interagir com a cultura. Em um mundo cada vez mais digital, ele ressaltou a necessidade de investir não apenas em jornais e rádios, mas também em redes sociais e inteligência artificial como novos instrumentos de evangelização.
Dom António também apontou desafios significativos que a Igreja enfrenta, como a falta de formação em jornalismo religioso, recursos limitados e um ambiente muitas vezes hostil nos meios de comunicação. Contudo, traçou perspectivas promissoras, incluindo a criação de escolas de comunicação católica, redes de cooperação entre dioceses e a promoção de uma comunicação “ética, eficaz e capaz de construir pontes”.
O impacto da esfera digital na ação social
Na sequência, o Pe. Cantifula de Castro discutiu o tema “Da esfera digital à ação social”, analisando o crescente impacto das plataformas digitais na participação cívica em Moçambique. O sacerdote observou que as redes sociais evoluíram de meros espaços de conversa para verdadeiras plataformas de mobilização social. Ele destacou movimentos como o Anamalala que, após as eleições de 2024, demonstraram a transição da esfera virtual para manifestações reais nas ruas.
Entretanto, o Pe. Cantifula também alertou para os riscos associados, como a manipulação por algoritmos, desinformação e repressão digital, defendendo a urgência de aumentar a literacia mediática, proteger ativistas e regular o espaço digital de forma justa. Essa reflexão é de suma importância no cenário atual e reafirma a necessidade de um consumo crítico de informações.
Desafios da imprensa confessional
A professora Neusa da Silva Pereira, diretora pedagógica da Faculdade de Educação e Comunicação, trouxe à tona o tema “Imprensa Confessional e Formação do Pensamento Crítico: tensões, desafios e possibilidades”. Em sua intervenção, fez uso de exemplos históricos e práticos para demonstrar que o maior desafio da imprensa confessional é equilibrar rapidez e profundidade nas informações. “Queremos informação rápida, mas também queremos profundidade. É este equilíbrio que precisamos construir”, destacou.
Durante sua análise, Neusa referiu-se a contribuições históricas que vão de Gutenberg ao Papa Leão XIV, refletindo sobre períodos sombrios da comunicação, como a censura papal do século XIX e a propaganda nazista. Ela ressaltou que, na contemporaneidade, as redes sociais têm o poder de moldar comportamentos e valores, tornando urgente a atuação da imprensa confessional como guia de discernimento entre o certo e o errado.
Possibilidades e o futuro da comunicação religiosa
Entre as tensões atuais, a professora apontou a necessidade de manter a doutrina sem fechar espaço ao debate, a urgência de rapidez na divulgação de notícias sem perda de credibilidade e as pressões sobre a independência editorial. Como oportunidades futuras, ela defendeu uma pedagógica do pensamento crítico, maior envolvimento dos jovens em jornais paroquiais e o fortalecimento de plataformas colaborativas de comunicação.
Para finalizar, Neusa citou o Pe. Cantifula: “Já fui algemado e agredido, mas não desisti. O nosso dever é dar voz a quem não a tem”, enfatizando assim a imprescindibilidade da comunicação na promoção de uma sociedade mais justa e participativa.
O simpósio encerrou com uma mensagem de esperança, destacando que a comunicação, seja através de meios tradicionais, digitais ou confessionais, continua sendo uma ferramenta essencial no impulso da missão evangelizadora e na construção de uma sociedade mais integrada e justa.
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