Feira de Santana, a segunda maior cidade da Bahia, não é conhecida por suas praias, mas, mesmo assim, conseguiu criar a sua própria versão em um passado não tão distante. Na década de 1960, a Lagoa de São José das Itapororocas foi transformada em uma “praia artificial”, trazendo um novo espaço de lazer para a cidade. O g1 recorda essa história especial, especialmente em um dia significativo, quando o município celebra 192 anos de história.
O surgimento da praia artificial
A ideia de criar uma praia em Feira de Santana surgiu durante a gestão do prefeito Joselito Falcão de Amorim (UDN). Diante da escassez de opções recreativas urbanas, Falcão utilizou sua criatividade para revitalizar a Lagoa de São José das Itapororocas, situada no distrito de Maria Quitéria. O espaço foi sanitizado e adaptado, transformando-se em um destino popular com areia branca trazida por caminhões, coqueiros plantados ao redor e quiosques para a venda de alimentos.
A Praia de São José rapidamente se tornou um ponto de encontro, atraindo banhistas de toda a região. Todas as semanas, caravanas de visitantes chegavam de carro, bicicleta ou até a pé, atraídos pela nova opção de lazer. O local vibrava com música, danças e uma atmosfera acolhedora, fazendo com que aquele espaço fosse visto como um refúgio para aqueles que buscavam uma experiência diferente no interior da Bahia.
A decadência da Praia de São José
Entretanto, como muitas inovações, a praia artificial não sobreviveu por muito tempo. O aumento do número de visitantes trouxe problemas. Acidentes nas águas da lagoa e nas estradas de acesso tornaram-se frequentes, além do desaparecimento gradual da areia que tornava o local atrativo. Com os anos, as águas da lagoa começaram a secar, e a “Praia de São José” foi lentamente esquecida pelos moradores, se tornando apenas uma memória entre os mais velhos.
Memórias da antiga praia
José Ângelo Leite Pinto, um fotógrafo e professor de 66 anos, é um dos que preservam boas recordações da Praia de São José. Para ele, as visitas à praia na infância foram momentos marcantes, cheios de alegria e confraternização. “Era um assunto fantástico na cidade. Pessoas de todas as partes queriam ir aproveitar aquele espaço novo”, compartilha Pinto. Naquela época, a aventura para chegar à lagoa, que era acessada por uma estrada de chão, se tornava uma experiência única e cheia de encanto.
Com o passar do tempo, a praia artificial entraria em decadência, marcada por tragédias e insegurança, até que a alegria que trouxera se dissipasse.
A comunidade quilombola e os impactos da mudança
Antes de ser transformada em um ponto turístico, a lagoa tinha um papel vital para a comunidade quilombola de Lagoa Grande. Segundo Sandra Cristina Queiroz Pinheiro, professora e mestre em História Regional e Local, a lagoa era uma fonte de sobrevivência para os moradores que dependiam dela para pescar, banhar-se e realizar várias atividades do dia a dia.
A transformação da lagoa em uma praia artificial causou muitos prejuízos para essa comunidade. “O cotidiano da população foi profundamente alterado. A mata que protegia a lagoa foi destruída; os peixes, que eram uma fonte de sustento, desapareceram. O que antes era vital se tornou um símbolo de resistência”, explica Sandra.
A atualidade e a memória resgatada
Nos últimos anos, a memória da Praia de São José e seus impactos voltou a ser discutida nas redes sociais, gerando reflexões entre os internautas. A influenciadora digital Mana Lula, de Feira de Santana, tem se destacado por reviver essa história, compartilhando vídeos que abordam as consequências da transformação da lagoa. Com mais de 250 mil visualizações, os conteúdos têm promovido um debate significativo sobre o estado atual da lagoa e os anseios da comunidade quilombola.
Hoje, a história da “praia artificial” de Feira de Santana é um lembrete do que já foi um espaço de alegria e confraternização, mas que também evidencia as consequências da exploração ambiental e a necessidade de revitalização. A luta da comunidade quilombola pela restauração da lagoa permanece viva, refletindo a resiliência de um povo que busca recuperar suas raízes e preservar sua cultura.
Para mais informações sobre a história de Feira de Santana e suas transformações, clique no link: Feira de Santana já teve praia.