A Dinamarca decidiu não incluir os Estados Unidos em um exercício militar internacional de grande escala realizado na Groenlândia, que ocorreu esta semana. Essa decisão representa uma reviravolta das práticas anteriores, já que as relações entre os países têm sido tensas desde que o presidente Donald Trump manifestou interesse em adquirir o território dinamarquês.
Exercício militar de grande porte e a ausência dos EUA
O exercício, que é considerado o maior na história moderna da Groenlândia, foi promovido em meio ao crescente interesse de potências como Rússia e China na região do Ártico e suas imensas reservas de recursos naturais. Com o apoio de militares de vários aliados europeus da OTAN, mais de 550 pessoas, incluindo mais de 70 soldados da França, Alemanha, Noruega e Suécia, participaram do evento.
Embora observadores militares dos EUA tenham estado presentes, o secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, foi convidado, mas o comandante ártico dinamarquês, Soren Andersen, esclareceu que as tropas americanas não foram convidadas para participar do treinamento. “Trabalhamos juntos com colegas na base espacial Pituffik dos EUA, mas eles não foram convidados para este exercício,” afirmou Andersen, que também mencionou que a relação entre os militares dinamarqueses e americanos continua boa.
A importância estratégica da Groenlândia
O exercício teve como objetivo principal fortalecer a capacidade operacional das forças armadas da Dinamarca e da Groenlândia, que é um território autônomo do Reino da Dinamarca. Em um momento em que o Ártico se torna prioridade para superpotências, a Groenlândia é reconhecida como a maior ilha do mundo que não é um continente, e possui ricas reservas minerais, sendo lar de 25 dos 34 minerais categorizados como “matérias-primas críticas” pela Comissão Europeia, essenciais para a manufatura de dispositivos eletrônicos.
Andersen também destacou as ameaças potenciais representadas pela Rússia e China. “É justo dizer que a Rússia se consolidou no Ártico nos últimos 20 anos, e é uma superpotência regional na região,” comentou ele, referindo-se a operações nunca antes vistas no estreito de Bering, entre o Alasca e a Rússia, onde os russos têm colaborado com barcos da guarda costeira chinesa.
As tensões entre Estados Unidos e Dinamarca
Este exercício militar ocorre em meio a crescentes tensões com um suposto aliado, já que Trump deixou claro suas intenções de reivindicar a Groenlândia. “Precisamos da Groenlândia para segurança nacional e até segurança internacional,” afirmou o presidente durante um discurso ao Congresso em março, enfatizando a influência de outras potências globais, como Rússia e China, na região. “E acho que vamos conseguir de uma forma ou de outra,” completou Trump, que está tentando aumentar a produção de chips de computador nos Estados Unidos, materiais que dependem de minerais encontrados na Groenlândia.
Funcionários dinamarqueses reforçaram que o interesse de Trump pela região não é bem-vindo. O The Wall Street Journal relatou em maio que a Diretoria de Inteligência Nacional dos EUA havia ordenado que espiões americanos aumentassem a coleta de informações sobre o movimento de independência da Groenlândia, uma movimentação que a administração Trump nunca negou publicamente.
Reações e posicionamento dinamarquês
No mês passado, o ministro das Relações Exteriores dinamarquês convocou Mark Stroh, encarregado de negócios dos EUA em Copenhague, após uma transmissão local relatar que membros da administração Trump haviam tentado implementar operações encobertas na Groenlândia, colhendo informações sobre pessoas dispostas a apoiar um movimento secessionista da Dinamarca. O ministro dinamarquês, Lars Lokke Rasmussen, confirmou a convocação e declarou que tentativas de qualquer país para “interferir” no Reino da Dinamarca seriam “claro e simplesmente inaceitáveis.”
Após a reunião, um oficial do Departamento de Estado dos EUA afirmou que os países “reafirmaram” os laços fortes entre Dinamarca, Groenlândia e EUA, destacando que “os Estados Unidos respeitam o direito do povo da Groenlândia de determinar seu próprio futuro”.
Com a crescente tensão entre as nações, o cenário geopolítico na Groenlândia se torna cada vez mais complexo, com a Dinamarca buscando fortalecer sua presença militar em resposta a interesses externos enquanto lida com as ambições dos Estados Unidos em relação ao território.