O Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA decidiu não publicar um importante estudo federal que relaciona o consumo de álcool a mais de 200 condições de saúde, segundo reportagem do Vox. O relatório preliminar, denominado Estudo de Consumo de Álcool e Saúde, apontava que até uma bebida diária pode aumentar o risco de câncer, doenças cardíacas e outros problemas, mas foi deliberadamente escondido da população.
Relevância do estudo e motivos para censura
De acordo com Priscilla Martinez, diretora científica adjunta do Alcohol Research Group e coautora do documento, as descobertas do estudo deveriam embasar novas diretrizes de consumo de álcool. “Este relatório e nossas conclusões, nos disseram, iriam informar as orientações de consumo”, afirmou Martinez. No entanto, uma versão de debate público publicada em janeiro foi posteriormente descartada, sendo substituída por um relatório alinhado às atuais recomendações do governo, que permitem até uma bebida por dia para mulheres e duas para homens.
O New York Times revelou que alguns participantes envolvidos na elaboração do novo documento possuem interesses financeiros com a indústria do álcool, levantando dúvidas sobre a integridade do processo.
Consequências do consumo e evidências científicas
Pesquisadores descobriram que o risco de desenvolver câncer, como de mama, fígado, cólon, além de doenças hepáticas e outros quadros, já começa com a ingestão de uma dose diária. As evidências indicam que o consumo até sete drinks por semana aumenta significativamente o risco de morte por causas relacionadas ao álcool — para quem consome mais de nove doses, a probabilidade chega a 1 em 100.
“Há quase uma chance 40 vezes maior de um homem morrer por uma doença relacionada ao álcool ao passar de uma para duas doses diárias”, destacou Martinez. Para as mulheres, o risco de câncer, especialmente de mama, é ainda mais pronunciado, devido à forte ligação entre álcool e esse tipo de câncer.
Impactos à saúde e ausência de informações transparentes
Os efeitos imediatos do álcool incluem ressaca, fadiga, acidentes, além de riscos de saúde crônicos, como câncer, doenças cardíacas, problemas digestivos e distúrbios mentais. Brooke Scheller, nutricionista clínica, reforça que muitas pessoas desconhecem o fato de que o álcool é um tóxico, e que os estudos que relacionam consumo ao câncer – considerados pela Organização Mundial da Saúde como carcinógeno do Grupo 1 – continuam ignorados na maioria das diretrizes públicas.
“Negar ou esconder esses dados constitui um enorme desrespeito à saúde pública”, criticou Scheller, destacando a influência da indústria de bebidas na censura dos estudos.
Comparações internacionais e recomendações
Cada país possui suas próprias orientações sobre o consumo de álcool. Noruega incentiva “quanto menos, melhor”, enquanto a Irlanda planeja colocar alertas de câncer e doenças hepáticas nas garrafas. No Canadá, recomenda-se no máximo duas bebidas por dia para mulheres e três para homens, além de campanhas que alertam sobre riscos em consumo semanal.
Nos Estados Unidos, a recomendação oficial de limite seguro para evitar efeitos adversos é de até uma ou duas doses diárias, mas o estudo ocultado sugere que os riscos começam já nessa quantidade.
Por que a transparência é fundamental
Especialistas afirmam que o público precisa de informações precisas e confiáveis para tomar decisões conscientes. Scheller afirma que cultivar uma cultura de transparência é essencial para combater a indústria do álcool, que muitas vezes prioriza interesses econômicos sobre a saúde dos consumidores.
Se você deseja reduzir o consumo, profissionais recomendam diminuir a frequência, escolher bebidas com menor teor alcoólico e procurar apoio em grupos e podcasts de recuperação. Para quem suspeita de dependência, o contato com profissionais de saúde mental é imprescindível.
À medida que mais estudos demonstram os perigos, a negligência na divulgação dessas informações revela uma grave disfunção na política de saúde pública, que continue omitindo o verdadeiro impacto do álcool na saúde da população.