A segunda edição do evento “Vozes do Agro”, realizado ontem em São Paulo pela Globo Rural e Valor, reuniu produtores rurais, executivos e representantes de entidades setoriais, governo, ciência e academia para debater as principais ameaças e oportunidades enfrentadas pelo setor agrícola brasileiro no mercado mundial.
Desafios de mercado e a influência geopolitica
Durante o painel de abertura, mediado por Patrick Cruz, editor-chefe da Globo Rural, líderes setoriais apresentaram ações do agronegócio brasileiro para superar obstáculos relacionados às tensões políticas e comerciais, especialmente após o tarifaço imposto pelos Estados Unidos às exportações brasileiras.
Carne brasileira e o mercado americano
Roberto Perosa, presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec), destacou que, apesar das tarifas, as vendas de carne bovina para os EUA continuam firmes. “Reduzimos nossa previsão de impacto das tarifas de US$ 1 bilhão para até US$ 400 milhões, porque continuam consumindo nossa carne”, afirmou.
Ele acrescentou que o Brasil possui uma carne “zebuína”, mais magra, que é altamente demandada pelos EUA para fazer blends e cortes específicos, especialmente carne moída. “Os EUA não têm essa carne na quantidade que fornecemos”, destacou Perosa.
Segundo o executivo, o mercado americano vive seu menor ciclo pecuário em 80 anos, mas ainda assim há uma demanda reprimida pelo produto brasileiro. Além disso, autoridades americanas já demonstram preocupação com os efeitos das tarifas na inflação do país, reconhecendo a importância da carne brasileira para o abastecimento.
Impactos e reflexos no mercado de café e carne
O aumento das tarifas também elevou os preços do café nos Estados Unidos, onde a demanda é intensa, com 76% da população consumindo a bebida. O diretor executivo do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Marcos Matos, comentou que a queda nas exportações para os EUA atingiu 46% em agosto e afirmou que “setembro será ainda mais difícil”.
Ele explicou que o mercado americano, atualmente em seu menor ciclo pecuário, depende do café brasileiro para abastecer suas necessidades, o que evidencia a relevância do Brasil como principal fornecedor mundial. “Só nós podemos abastecer esse mercado”, destacou.
Devido às políticas tarifárias, o preço do café disparou nos EUA, com risco de escassez, consequência direta do aumento de custos para os consumidores americanos. Também há preocupação com o impacto na inflação do país, o que tem despertado atenção das autoridades americanas às medidas comerciais brasileiras.
Perspectivas futuras para o agronegócio brasileiro
Durante o debate, ficou claro que o setor busca estratégias coletivas para enfrentar as pressões externas, aproveitando as oportunidades de negócios, mesmo em um cenário de tensões políticas e tarifárias. A cooperação entre o setor público e privado é vista como essencial para destravar barreiras e consolidar a posição do Brasil no mercado mundial.
Segundo especialistas, a resistência e a adaptação rápida às mudanças do cenário internacional podem definir o futuro do agronegócio brasileiro na próxima década, garantindo sua competitividade global.