A jornalista e ativista Milly Lacombe teve sua participação na Festa Litero Musical (Flim), que acontece no Parque Vicentina Aranha em São José dos Campos, cancelada em uma ação que gerou ampla repercussão. O veto ocorreu após declarações polêmicas feitas pela jornalista em um episódio do podcast “Louva a Deusa”, onde critica duramente o conceito de “família tradicional”, levando a uma onda de críticas nas redes sociais.
As declarações que causaram a reação
No episódio do podcast, Lacombe afirma que “família é um núcleo produtor de neurose” e critica a “família tradicional, branca, conservadora, brasileira”, fazendo uma conexão entre esses conceitos e o fascismo. Essas falas rapidamente se tornaram virais, resultando em um clamor público que levou a intervenções de figuras políticas locais.
A participação da jornalista estava programada para a mesa de abertura da Flim, que contaria também com a presença de outros renomados escritores, como Xico Sá e Cuti. Contudo, a repercussão negativa das manifestações de Lacombe levou ao cancelamento. O vereador Thomaz Henrique, do PL e opositor da atual gestão, foi um dos primeiros a criticar a presença da jornalista no evento, destacando as suas falas e pressionando a Associação para o Fomento da Arte e da Cultura (AFAC), organizadora da Flim, bem como os patrocinadores do evento.
Decisões políticas e reações
O cancelamento foi confirmado pelo prefeito Anderson Farias, que se pronunciou em vídeo alegando que sua decisão foi motivada pela necessidade de manter a neutralidade e a união na cultura local. “Cultura deve unir, não dividir”, afirmou Farias em seus comentários. Ele também destacou que a presença de Lacombe, que tem um histórico de posturas controversas, não seria aceitável em um espaço público destinado à promoção da cultura.
Outro vereador, Zé Luís, do PSD, reforçou a posição do prefeito e mencionou que a decisão foi discutida com os envolvidos e que foi tomada rapidamente após as queixas manifestadas.
A posição da AFAC e a repercussão da decisão
A AFAC, em nota oficial, confirmou o cancelamento e declarou que a decisão foi feita em “comum acordo” com a convidada, visando a integridade de todos os envolvidos. A nota ainda reafirmou que ao longo de dez edições, a Flim se consolidou como um evento importante no cenário cultural do Vale do Paraíba e que as manifestações de Lacombe não estariam alinhadas com os objetivos do evento.
Os organizadores ressaltaram a importância do evento como um promotor da cultura e da literatura, além de um vetor econômico na região, mostrando o compromisso em manter um ambiente que respeite a diversidade de opiniões sem comprometer os propósitos do festival.
A expectativa da comunidade cultural
A decisão gerou um debate acalorado entre os amantes da literatura e a comunidade cultural, com muitos questionando a liberdade de expressão e a capacidade de diálogo em eventos públicos. A situação levantou discussões sobre onde traçar os limites entre a política, a arte e o espaço cultural, especialmente em um período onde a polarização é forte.
A tangente crítica às posturas conservadoras da família brasileira feita por Milly Lacombe abriu um capítulo novo nesta discussão, onde artistas e intelectuais se sentem compelidos a se posicionar em relação a temas sociais e familiares em um país em constante transformação. O silenciamento de vozes pode ser visto como uma forma de censura, enquanto outros apoiam a ideia de um espaço neutro para um evento literário.
A expectativa agora é como a Flim se desenrolará nos dias seguintes e se haverá outras reações, tanto de artistas que se sentiram silenciados quanto de defensores da decisão do governo local. O evento pode se tornar não apenas um espaço de literatura e música, mas também um campo de batalha de ideologias em um momento em que a diversidade e o diálogo são mais necessários do que nunca.
Seguindo as atualizações, espera-se que as partes envolvidas se manifestem, trazendo mais clareza sobre o impacto deste cancelamento e do futuro da relação entre arte e política no Brasil.