Um incidente recente teve grandes repercussões no cenário cultural de São José dos Campos, interior de São Paulo. A equipe de curadoria da Festa Litero Musical (Flim) decidiu abandonar suas funções após um episódio de censura que envolveu a jornalista e escritora Milly Lacombe. O cancelamento da participação de Lacombe na feira, decidido pelo prefeito da cidade, gerou uma onda de protestos e discussões sobre liberdade de expressão e respeito às diversidades na cultura.
O que aconteceu?
Na última terça-feira, dia 16 de setembro, os curadores da Flim, incluindo o renomado escritor Xico Sá, anunciaram sua saída da curadoria do evento. O motivo? A censura à participação de Milly Lacombe, que havia sido convidada para a mesa de abertura da feira. O cancelamento ocorreu após declarações polêmicas de Lacombe, feitas em um episódio do podcast “Louva a Deusa”, onde ela criticou o conceito de família tradicional, descrevendo-o como uma “base do fascismo”. Essa fala gerou controvérsias, levando o prefeito de São José dos Campos a solicitar o cancelamento da jornalista no evento.
Reações à censura
Em entrevista ao g1, Xico Sá expressou seu descontentamento com a decisão. “Deixo aqui todo apoio e solidariedade à jornalista Milly Lacombe, censurada e silenciada politicamente pela Prefeitura de São José dos Campos. Em protesto, comunico o cancelamento da minha participação”, afirmou Sá, que deveria participar da mesa ao lado de Lacombe.
Bianca Mantovani, uma das curadoras da Flim, relatou que a equipe foi pega de surpresa com o cancelamento. Apesar do prefeito alegar que discutiu a situação com a gestão do evento no sábado anterior, foi apenas naquele dia que os curadores souberam da decisão pela internet. Em uma reunião na segunda-feira, Lacombe, Sá e o poeta Cuti discutiram o evento, sem saber que sua participação estaria ameaçada.
Nota oficial da curadoria
A equipe de curadoria publicou uma nota em que expressou indignação e decidiu se retirar da Flim, ressaltando o desrespeito à liberdade de expressão e à diversidade de opiniões. “Em uma edição que propõe discutir a alteridade e a convivência com o outro, essa decisão arbitrária inviabiliza a nossa continuidade”, declarou o coletivo. O documento foi assinado pelas curadoras Alice Penna e Costa, Bianca Mantovani, Tania Rivitti, e Bruna Fernanda, assistente de curadoria.
O papel da prefeitura e da AFAC
A Associação para o Fomento da Arte e da Cultura (AFAC), que gerencia o Parque Vicentina Aranha, onde a Flim acontece, informou que respeita a decisão da curadoria e continua a trabalhar para a realização do evento. A AFAC destacou que, ao longo de suas 10 edições, a feira se consolidou como um dos principais eventos literomusicais do interior paulista.
O prefeito Anderson Farias manteve sua posição em relação ao cancelamento da participação de Lacombe, afirmando que a cultura deve unir as pessoas e não dividi-las. Segundo ele, não se pode permitir que pensamentos considerados inadequados sejam apresentados em um espaço público, uma declaração que levantou ainda mais debates sobre censura e liberdade de expressão.
Discussão sobre liberdade de expressão
O cancelamento da participação da jornalista e a saída da equipe de curadoria levantam questões importantes sobre liberdade de expressão no Brasil. A reação contrária à fala de Lacombe, vista por muitos como uma crítica a normas familiares tradicionais, mostra a polarização do debate cultural no país.
Além disso, a repercussão do caso pode influenciar outros eventos culturais e a forma como eles são geridos. A censura de vozes críticas e divergentes pode prejudicar a diversidade de opiniões que eventos como a Flim deveriam promover.
Com o cancelamento de Lacombe, fica uma clara mensagem sobre os limites da liberdade criativa e a necessidade de diálogo respeitoso na esfera pública. O debate sobre censura na cultura brasileira está longe de se encerrar, e o caso da Flim certamente será um ponto de referência nas discussões sobre o assunto.
A cobertura sobre esse incidente e suas consequências continua. A expectativa é que novos eventos e discussões surjam a partir dessa controvérsia e que o respeito pela liberdade de expressão prevaleça no cenário cultural brasileiro.