A execução do ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Ruy Ferraz Fontes, no dia 15 de setembro em Praia Grande, marca o terceiro assassinato de autoridades ligadas ao combate ao crime organizado nos últimos 22 anos no estado. O crime reabriu questionamentos sobre a segurança de profissionais que, mesmo após aposentadoria, continuam sendo alvos de retalições. Além de Ruy, um juiz e um ex-diretor de presídio também foram assassinados em situações semelhantes.
O assassinato e seu contexto
Ruy Ferraz Fontes, conhecido por sua atuação decisiva contra o Primeiro Comando da Capital (PCC), foi brutalmente assassinado a tiros. Os criminosos dispararam pelo menos 21 vezes contra o ex-delegado, evidenciando uma ação planejada e ousada dos envolvidos. A natureza do ataque levanta alarmes sobre o nível de vulnerabilidade de aqueles que trabalham na linha de frente do combate ao crime e suas consequências.
No passado, outros dois casos emblemáticos surgem como lembranças sombrias. Em 2003, o juiz corregedor das execuções criminais, Antonio José Machado Dias, conhecido como “Machadinho”, foi assassinado em Presidente Prudente, após dispensar a escolta policial. Em seguida, em 2005, o ex-diretor da Casa de Detenção do Carandiru, José Ismael Pedrosa, também teve seu fim trágico em um atentado.
A reação das autoridades
A morte de Ruy Ferraz levou a uma reação intensa das autoridades, incluindo a mobilização do governador Tarcísio de Freitas. O secretário nacional de Segurança Pública, Mário Sarrubo, revelou que o Ministério da Justiça está elaborando um projeto de lei que visa proteger profissionais da segurança pública, incluindo aposentados. “É algo necessário e muito importante. O texto será apresentado ao presidente da República em breve”, afirmou Sarrubo.
Para o Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindipesp), o crime representa um golpe direto nas instituições e na ideia de justiça. A presidente do sindicato, Jaqueline Valadares, enfatizou que a falta de investimentos na Polícia Civil contribui para a sensação de insegurança na sociedade, ressaltando que o crime organizado se fortalece onde a polícia não consegue atuar efetivamente.
Investigação em andamento
A polícia paulista já identificou dois suspeitos envolvidos na execução de Ruy Ferraz. As investigações apontam duas possíveis motivações: a primeira ligada a uma possível vingança em razão da atuação de Ruy contra os chefes do PCC, e a segunda relacionada a sua investigação de contratos na Prefeitura de Praia Grande, que pode ter causado desconforto em certos grupos criminosos. A segurança pública, portanto, continua a ser um tema de grande relevância.
As imagens das câmeras de segurança revelaram a dinâmica do ataque, onde criminosos perseguiram o carro de Ruy até que ele colidiu em um ônibus, seguido dos disparos fatais. Essa cena chocante mostra a audácia dos criminosos e a realidade perigosa enfrentada por aqueles que desafiam o crime organizado no Brasil.
Quem foi Ruy Ferraz Fontes?
Ruy Ferraz Fontes dedicou mais de 40 anos de sua vida à luta contra o crime, sendo uma figura emblemática na prisão de lideranças do PCC, como Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola. Ele ocupou diversas funções importantes na Polícia Civil e foi um dos principais responsáveis pelas investigações e prisões ligadas ao tráfico de drogas e à formação de quadrilhas.
Além de sua longa trajetória na polícia, Ruy era uma referência no combate ao crime e sua morte simboliza não apenas a perda de um profissional, mas a fragilidade do sistema de segurança em face do crime organizado. A percepção de impunidade e o poder exercido por facções criminosas permanecem como um grande desafio para as autoridades brasileiras.
O caso de Ruy Ferraz Fontes é um lembrete amargo da necessidade de proteger aqueles que se dedicam ao combate ao crime, bem como a urgência de investimentos em segurança pública e na valorização das instituições que garantem a ordem e a justiça na sociedade.
Com as investigações em curso, a esperança é que as autoridades consigam esclarecer os fatos e que casos como o de Ruy não se tornem rotina na luta contra o crime no Brasil.