A recente condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF) tem gerado repercussões internacionais, e a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, não hesitou em criticar a reação do governo dos Estados Unidos. Para ela, as declarações do presidente americano, Donald Trump, e de outros representantes do governo dos EUA são “ilegal, autoritária e abusiva”, atentando contra a soberania do Brasil.
A reação do governo dos EUA
No meio das tensões geradas pela condenação de Bolsonaro, ressaltou-se a postura da administração Trump, que, segundo Gleisi, incita intervenções estrangeiras nas decisões judiciais brasileiras. Em uma publicação no X (antigo Twitter), a ministra afirmou: “As novas ameaças do governo Trump ao Brasil apenas confirmam a traição de Jair Bolsonaro, que incita uma potência estrangeira a atacar e punir os responsáveis pela Justiça em nosso país.”
Convocação e ameaça de sanções
As tensões aumentaram quando o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, mencionou a possibilidade de novas sanções contra o Brasil em resposta à condenação de Bolsonaro. Rubio foi enfático ao dizer que haverá anúncios sobre essas medidas na “próxima semana.” Ele referiu-se ao STF como um grupo de “juízes ativistas”, insinuando que suas decisões prejudicavam empresas e cidadãos americanos.
Gleisi Hoffmann, por sua vez, defendeu que o processo legal contra Bolsonaro “preservou o estado de direito democrático no Brasil”, demarcando uma postura defensiva em relação à soberania do país. Ela completou a crítica afirmando que a verdadeira ilegalidade reside nas tentativas de intervenção do governo norte-americano: “Ilegal, autoritário e abusivo é atentar contra a soberania de outro país, como vem fazendo o governo Trump para livrar Bolsonaro das penas a que foi condenado.”
Expectativas sobre novas medidas anunciadas
A abordagem do governo brasileiro é analisada com cautela em meio a essa nova dinâmica internacional. Interlocutores do governo Lula acreditam que, caso os Estados Unidos implementem sanções, estas podem ser individuais, focando em autoridades específicas, em vez de uma abordagem coletiva. Vale lembrar que, em julho, Alexandre de Moraes, um dos juízes do STF, já havia sido alvo de sanções americanas após articulações entre o deputado federal Eduardo Bolsonaro e autoridades dos EUA.
A situação também levanta preocupações sobre discriminação contra as autoridades brasileiras que participarão da Assembleia Geral da ONU em Nova York. Alguns pedidos de visto, como o do Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, ainda permanecem pendentes, sinalizando um clima tenso nas relações Brasil-EUA.
Impacto da condenação de Bolsonaro nas relações bilaterais
Os comentários de Trump em relação ao julgamento de Bolsonaro, onde ele se disse “terrível” pelo resultado, mostram um descontentamento que pode afetar ainda mais a relação entre os países. De acordo com análises, o Brasil precisará se preparar para um possível recalibrar das relações entre o governo brasileiro e a administração americana, especialmente em questões comerciais e sanções.
Além disso, a imagem do Brasil, após o julgamento de Bolsonaro e outros militares acusados de tentativa de golpe, foi descrita como bastante positiva por autoridades do governo Lula, que acreditam que o país não se deixou levar pela “chantagem tarifária” da Casa Branca.
Desafios e incertezas futuras
Embora as tensões estejam elevadas, há uma gama de incertezas que podem influenciar o futuro das relações Brasil-EUA. A investigação sobre práticas comerciais desleais e as ações do governo norte-americano em relação a mercados de crédito e novos sistemas de pagamento, como o Pix, permanecem questionáveis, podendo agravar ainda mais a situação.
Com a possibilidade de um impacto direto nos setores comerciais brasileiros, especialmente o agronegócio, que é uma base eleitoral considerável, as autoridades precisam se preparar para desvendar esse complexo panorama político. A condenação de Bolsonaro não apenas reflete questões internas, mas também provoca ondas em uma arena internacional onde o Brasil busca afirmar-se de forma soberana.