A startup francesa NetZero anunciou nesta terça-feira a construção de uma nova fábrica de biocarvão na cidade de Campina Verde, em Minas Gerais. A unidade, que começará a operar em fevereiro de 2026, será pioneira no uso da cana-de-açúcar como insumo para a produção do carvão vegetal que captura carbono, aproveitando resíduos agrícolas disponíveis na região.
Fábrica de biocarvão considerando resíduos de cana-de-açúcar
A inovação da NetZero consiste em utilizar resíduos de cana-de-açúcar, uma das maiores fontes agrícolas de matéria-prima para o biocarvão, que é produzido por meio do processo de pirólise. Segundo Olivier Reinaud, diretor-geral da empresa, o objetivo é aproveitar os 700 milhões de toneladas de resíduos gerados anualmente mundialmente, dos quais o Brasil responde por quase 40%, para criar uma alternativa sustentável de captura de carbono.
Produção e benefícios do biochar
A unidade começará produzindo cerca de 4.000 toneladas de biocarvão por ano, obtidas pela queima de resíduos vegetais a temperaturas elevadas. Essa técnica permite fixar o carbono ao longo da vida das plantas, evitando que o gás seja devolvido à atmosfera, contribuindo assim para o combate ao aquecimento global e a regeneração dos solos.
De acordo com a empresa, o biochar também favorece a melhora da fertilidade do solo devido à sua porosidade, além de contribuir para a redução do uso de fertilizantes químicos. Reinaud destacou que a startup foi a primeira a registrar junto ao Ministério da Agricultura do Brasil um método de utilização do biocarvão para melhorar as terras agrícolas.
Perspectivas de crescimento e impacto ambiental
Nos últimos cinco anos, as vantagens ambientais e econômicas do biochar permitiram o financiamento por créditos de carbono, ampliando o potencial de novos projetos no setor. A NetZero aposta que a produção em escala industrial de biocarvão, em zonas tropicais, pode impulsionar um crescimento forte para a tecnologia.
Segundo a empresa, sua tecnologia consegue contornar a complexidade técnica de transformar resíduos de cana, que possuem umidade, baixa densidade e granulometria variável, por meio de inovações que estão sendo desenvolvidas pela equipe de engenheiros e climatologistas. Reinaud também afirmou que os talos de cana serão fornecidos por uma importante empresa agrícola local, que posteriormente utilizará o biocarvão para melhorar suas terras.
Próximos passos e objetivos futuros
A nova fábrica faz parte de uma estratégia de expansão da NetZero, fundada em 2021, que visa industrializar o uso do biocarvão em regiões tropicais ao redor do mundo. A empresa busca promover a captura de carbono de forma eficiente, ao mesmo tempo em que impulsiona a regeneração agrícola e econômica na região.
Essa iniciativa reforça o potencial do Brasil como polo de tecnologias sustentáveis, além de abrir caminho para a produção de biocarvão com impacto positivo no clima e nos solos agrícolas, fortalecendo a agenda de combate às mudanças climáticas globalmente.