O ex-presidente Michel Temer (MDB) realizou uma série de declarações impactantes durante sua participação no programa Roda Viva, da TV Cultura, nesta segunda-feira. O principal tema abordado foi a questão da anistia, especialmente no contexto dos atos golpistas ocorridos no dia 8 de janeiro. Segundo Temer, uma anistia decretada unilateralmente pelo Congresso Nacional não terá êxito e deve ser discutida em um ambiente que envolva todos os três Poderes.
A importância do pacto nacional
Em sua análise, Temer enfatizou que a anistia só poderá ter um impacto significativo se houver um “pacto nacional” que envolva não apenas os legisladores, mas também o presidente da República, líderes do Judiciário e representantes da sociedade civil, incluindo a oposição. Ele declarou que o processo de diálogo e consenso é fundamental para garantir que a anistia seja bem recebida: “Se for decretada a anistia pelo Congresso, sem esse pacto nacional, vai ser levado ao Supremo. Nesse sentido, o ministro Flávio Dino tem razão ao afirmar que a anistia não é sinônimo de paz”, ressaltou.
Temer acredita que uma conversa entre os Poderes e a sociedade civil poderia resultar em um gesto de civilidade política: “Se os Poderes se reunissem e chamassem a oposição, teríamos um ambiente de diálogo que permitiria encontrar um caminho para o país”, acrescentou.
Crítica à abordagem de Tarcísio de Freitas
Além de suas observações sobre a anistia, Temer também comentou a polêmica envolvendo o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Durante o desfile de 7 de Setembro, Tarcísio criticou Alexandre de Moraes, ministro do STF, chamando-o de “tirano”. Temer caracterizou essa declaração como uma “infelicidade” e uma tentativa equivocada de se alinhar com os bolsonaristas, ressaltando que a abordagem de Tarcísio não condiz com sua imagem ponderada: “Ele é muito ponderado e transmitir essa mensagem talvez tenha sido uma tentativa de trazer os bolsonaristas para o seu lado”, disse.
O ex-presidente também comentou que ficou surpreso com o ataque de Tarcísio a Moraes, já que eles mantêm uma boa relação. “Ele pode recompor essa situação”, observou Temer, mostrando-se otimista sobre a capacidade do governador em restabelecer um diálogo mais civilizado na política.
Posição do governo sobre a anistia
No contexto de discussões sobre a anistia, o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), em um almoço no Palácio da Alvorada. Durante a reunião, Lula reiterou sua posição contrária ao projeto que visa anistiar os envolvidos nos conflitos de 8 de janeiro. Essa medida é considerada um passo que poderia beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro, o que é rejeitado pelo atual governo.
O ex-presidente Temer também sugeriu que, em vez de Motta tomar decisões unilaterais sobre pautar a anistia, ele deveria levar a questão ao colégio de líderes da Câmara, ressaltando que suas decisões não podem ser tomadas de forma isolada, mas devem ser fruto de um debate coletivo.
Conclusão: a necessidade de diálogo e civilidade
A declaração de Temer no Roda Viva sublinha a importância de um debate político mais inclusivo e civilizado em um momento de intensa polarização no Brasil. A proposta de um pacto nacional envolvendo todos os segmentos da sociedade civil, assim como a crítica ao ataque de Tarcísio a Moraes, demonstram uma visão de que a política precisa voltar a dialogar em busca de soluções que promovam a paz e a estabilidade. A reflexão sobre a anistia e a necessidade de um consenso entre os Poderes é um tema que continuará a ser debatido à medida que o Brasil avança em sua trajetória democrática.