Um dos maiores nomes da comédia americana se prepara para compor o line-up do festival Riyadh Comedy Festival, na Arábia Saudita, que acontecerá de 26 de setembro a 9 de outubro de 2025. Comediantes de renome, como Dave Chapelle, Kevin Hart e Bill Burr, foram convidados, mas enfrentam uma pressão crescente para se posicionarem contra os abusos de direitos humanos do governo saudita.
Pressão de organizações de direitos humanos
A Human Rights Watch (HRW) fez um apelo aos comediantes, advertindo-os sobre a possibilidade de se tornarem “cúmplices” ao se apresentarem em um país com um histórico recente de repressão e violações de direitos. Joey Shea, pesquisador da HRW, ressaltou que a Arábia Saudita tem investido bilhões em eventos de entretenimento para desviar a atenção do mundo — e de sua própria população — das graves questões de direitos humanos que ocorrem no país.
Um festival controverso
O festival, que promete ser o maior evento de comédia do mundo, é visto por críticos como parte de um esforço do governo saudita para melhorar sua imagem no cenário internacional. Rogers destaca que esses eventos buscam criar uma distração em relação ao “número crescente de execuções” que têm ocorrido em território saudita, incluindo a execução do jornalista Turki Al-Jasser, que foi morto em junho após ser mantido em detenção por sete anos.
O caso de Turki Al-Jasser
Al-Jasser foi condenado por terrorismo e traição, acusado de autorar postagens anônimas que criticavam a família real saudita. A organização Repórteres Sem Fronteiras classificou as acusações como “falsas”. “Essa execução de um jornalista aconteceu sem críticas internacionais significativas, resultado claro de uma estratégia de branqueamento que tem recebido bilhões em investimentos”, afirma Joey Shea.
Os artistas e a crítica ao regime
Quando questionado se os comediantes poderiam se sentir livres para realizar piadas que critiquem o regime, Shea previu que organizadores do festival imporão limites claros sobre o que pode e não pode ser abordado no palco. O evento é financiado pela Autoridade Geral de Entretenimento, órgão governamental saudita.
Tom Dillon, um dos comediantes que se apresentará no festival, revelou em seu podcast que foi pago US$ 315 mil por um único show, enquanto alguns de seus colegas mais famosos fariam até US$ 1,6 milhão. Até o momento, as assessorias dos comediantes Bill Burr, Kevin Hart, e outras celebridades contatadas, não se pronunciaram sobre suas participações.
A resposta da Arábia Saudita
A CBS News solicitou comentários à Ministério das Relações Exteriores da Arábia Saudita sobre as alegações da HRW, mas ainda não obteve resposta. Vale lembrar que, em 2021, a Saudi Arabia lançou a LIV Golf, uma liga de golfe marcada pela troca de jogadores do PGA Tour por contratos altamente lucrativos, um movimento também criticado como uma tentativa de “sportswashing”.
Esse evento chamou ainda mais atenção, pois ocorreu apenas três anos após o brutal assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, um crítico proeminente do governo saudita. Relatórios da CIA indicaram que o assassinato foi provavelmente ordenado por Mohammed bin Salman, príncipe herdeiro da Arábia Saudita.
O festival de comédia está refletindo não apenas a evolução do entretenimento na Arábia Saudita, mas também o dilema moral que artistas enfrentam ao se apresentarem em locais onde os direitos humanos frequentemente são desrespeitados. Muitos estão se perguntando se a presença desses comediantes pode de alguma forma melhorar – ou manchar – a reputação da Arábia Saudita no cenário internacional.