Neste último final de semana, a família do renomado pianista brasileiro Francisco Tenório Cerqueira Júnior, conhecido como Tenório Jr., recebeu a confirmação da morte do músico quase 50 anos após seu desaparecimento em Buenos Aires, Argentina. A notícia foi recebida com um misto de alívio e tristeza, conforme revelado em um comunicado assinado pelos filhos do artista.
As circunstâncias do desaparecimento
Tenório Jr. desapareceu em março de 1976, um período marcado pelo golpe militar argentino, e sua história é entrelaçada com o contexto de repressão das ditaduras sul-americanas, conhecido como Operação Condor. Na época de seu sumiço, o músico estava em uma turnê pelo continente sul-americano, e após uma apresentação no Teatro Gran Rex em Buenos Aires, ele saiu do hotel onde estava hospedado e nunca mais foi visto.
Os filhos do pianista, Elisa, Andrea, Francisco e Margarida, expressaram sua dor ao saber que o pai, vítima da violência da ditadura, foi enterrado como indigente. “É um alívio porque, finalmente, podemos saber com mais segurança o que aconteceu com ele”, afirmaram na nota.
Trajetória marcante na música brasileira
Considerado um dos grandes nomes da música instrumental brasileira, Tenório Jr. era referência no samba-jazz e na bossa nova. Nascido em 4 de julho de 1940, na Zona Sul do Rio de Janeiro, ele mergulhou no mundo da música desde cedo, começando sua formação aos 15 anos. Sua contribuição para a bossa nova e o samba-jazz é inegável, com parcerias memoráveis ao lado de artistas como Vinicius de Moraes, Toquinho e Leny Andrade.
Ao longo de sua carreira, Tenório Jr. participou de festivais e deixou sua marca em álbuns icônicos, incluindo “É Samba Novo” de Edson Machado e “Embalo”, seu único disco solo, lançado em 1964. Ele se tornou uma figura central no Beco das Garrafas, reduto da bossa nova em Copacabana, onde seu estilo refinado e domínio técnico fizeram dele uma referência na fusão entre jazz e música brasileira.
Confirmação e busca por justiça
A identificação de Tenório Jr. como uma das vítimas do terrorismo de Estado na Argentina foi confirmada em 2025. A Equipe Argentina de Antropologia Forense utilizou exames de impressões digitais e DNA para identificar os restos mortais encontrados em um terreno baldio, onde o músico foi enterrado como indigente. A Embaixada do Brasil expressou gratidão às autoridades argentinas pelo trabalho realizado em busca da verdade e justiça.
A confirmação da morte, embora elucidativa, não encerra as busca por respostas. A família agora cobra uma investigação mais aprofundada: “Ainda queremos e precisamos de respostas. Quem matou Tenório? Por quê?”, questionaram. O sentimento de perda é palpável, não apenas pela ausência física do pai, mas pela incerteza que acompanhou suas vidas por tanto tempo.
A importância da memória e justiça
A história de Tenório Jr. é um lembrete não só do talento e da contribuição do músico à cultura brasileira, mas também das atrocidades cometidas durante as ditaduras na América Latina. Com cada passo em direção à verdade, há uma oportunidade de honrar a memória de todos que foram vítimas da violência e injustiça. A dor da perda pode nunca desaparecer, mas a busca por justiça oferece um caminho para conforto e cura.
Com o cenário atual, a história de Tenório Jr. deve ser lembrada, e suas contribuições para a música brasileira serão perpetuadas entre músicos e admiradores. A luta de sua família por respostas é também uma luta coletiva por justiça e memória, essencial para que capítulos tristes como esse não se repitam.