Nascido em 4 de julho de 1940, no Rio de Janeiro, Francisco Tenório Cerqueira Júnior, popularmente conhecido como Tenorinho, foi um destacado músico que brilhou nas décadas de 1960 e 1970. Iniciou sua carreira artística aos 15 anos e conquistou fama nos gêneros samba jazz e bossa nova. Porém, sua vida foi tragicamente interrompida em 1976, em um contexto de repressão política na Argentina, onde desapareceu sem deixar vestígios.
Confirmação da identidade e o fim de uma busca dolorosa
A Equipe Argentina de Antropologia Forense (EAAF) confirmou, no último sábado, a identificação do corpo do pianista, que esteve desaparecido desde 18 de março de 1976, em Buenos Aires. A confirmação foi realizada por meio de exames de impressões digitais, encerrando um mistério que perdurou por cinco décadas. Tenorinho era casado e deixou cinco filhos.
O reconhecimento de Tenório Júnior como desaparecido político pelo Estado brasileiro e o subsequente reconhecimento da responsabilidade do Estado argentino em 1997, por meio da Secretaria de Direitos Humanos, trouxeram imenso alívio à família. Em 2002, a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) do Brasil deferiu um pedido de indenização à família de Tenorinho.
Como um tributo à sua memória, seu nome foi inscrito no monumento do Parque da Memória, em Buenos Aires. O corpo do músico foi encontrado enterrado no cemitério de Benavídez, na província de Buenos Aires, sem documentos, há quase 50 anos.
A história do desaparecimento
Aos 35 anos, Tenorinho chegou a Buenos Aires como pianista da famosa banda de Vinícius de Moraes e Toquinho. Ele se apresentou em diversos shows até que, em uma noite de março de 1976, saiu de um hotel próximo à Avenida Corrientes e nunca mais foi visto. Naquela época, o Brasil vivia um período de repressão, e muitos brasileiros estavam sendo perseguidos pelas forças militares.
Em 20 de março de 1976, um corpo foi encontrado em um terreno baldio, o que gerou a abertura de um inquérito na época. Com a falta de identificação, o corpo foi enterrado sem mais informações. As investigações revelaram que o homem havia sido baleado e que Tenorinho havia cruzado o caminho de soldados que buscavam outros indivíduos nas ruas para prender durante a preparação para um golpe militar.
O trabalho da EAAF e o legado de Tenorinho
A EAAF é uma entidade que, há mais de 40 anos, investiga desaparecimentos na Argentina e já recuperou mais de 1.600 corpos na região, com cerca de 839 identificados, incluindo o de Tenório Júnior, que teve sua identidade confirmada por comparação de impressões digitais. A entidade ressaltou que outras cinco vítimas já foram identificadas pelo mesmo método no cemitério de Benavídez, embora seus corpos também não tenham sido recuperados.
Embora as investigações tenham indicado que Tenório Júnior não estava envolvido em nenhuma organização política, ele se tornou uma de suas vítimas. Em 2013, a Comissão Nacional da Verdade do Brasil fez um apelo ao governo argentino para investigar os desaparecimentos de brasileiros durante ações da Operação Condor.
Os dados do Movimento de Justiça e Direitos Humanos do Rio Grande do Sul mostram que 11 brasileiros desapareceram na Argentina entre 1971 e 1980. O caso de Tenorinho se tornou emblemático e recebeu até homenagens na forma de um poema de Vinícius de Moraes, escrito em 25 de março de 1976, como uma forma de expressar a dor e a busca por justiça.
A identificação de Tenório Júnior não apenas esclarece um dos capítulos mais obscuros da história da repressão na América Latina, mas também traz à tona a importância de se lembrar e honrar as vítimas do regime militar, reafirmando a luta por justiça e direitos humanos.