Brasil, 14 de setembro de 2025
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Bactérias super-resistentes encontradas em aves no litoral de SP

Pesquisadores identificam bactérias resistentes em aves silvestres em Santos, SP, sinalizando um problema crescente de saúde pública.

Pesquisadores da Universidade Metropolitana de Santos (Unimes) e do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP descobriram o que pode ser um importante sinal de alerta em relação à saúde ambiental. Bactérias super-resistentes, particularmente do tipo Escherichia coli, foram identificadas em aves silvestres no Orquidário de Santos, no litoral de São Paulo. As bactérias foram encontradas no trato intestinal de um urubu e de uma coruja, levantando questões sobre a resistência bacteriana e sua disseminação em ambientes naturais.

O fenômeno da resistência bacteriana

De acordo com o professor Fábio Sellera, que participou do estudo, a resistência a antibióticos tem sido uma preocupação crescente em ambientes hospitalares, mas agora avança para ecossistemas naturais. “Esses animais não deveriam ter contato com antibióticos na natureza”, comentou Sellera, ressaltando a anomalia da detecção de tais bactérias em aves que, teoricamente, estão distantes da influência humana.

A Escherichia coli é uma bactéria que normalmente faz parte da microbiota intestinal de humanos e animais, sendo normalmente inofensiva até certa medida. Contudo, algumas variantes dela, que são resistentes a diferentes tipos de antibióticos, representam um risco significativo à saúde pública. “Isso mostra que o problema da resistência, hoje, está muito além do ambiente hospitalar humano”, alertou o professor.

Como foi realizada a análise das aves?

A pesquisa envolveu a análise de 49 animais no Orquidário de Santos. A coleta de amostras foi realizada utilizando um swab estéril, que foi introduzido em locais específicos dos animais, como o reto, a cloaca, ou por meio de fezes. O procedimento, embora simples, é fundamental para a pesquisa microbiológica.

Durante o estudo, realizado em junho do ano passado, foi identificado que os dois pássaros estavam colonizados pelas bactérias, mas não infectados. O urubu foi trazido ao centro debilitado e com múltiplas fraturas, e acabou sendo eutanasiado. Já a coruja, que está em reabilitação há uma década, permanece assintomática, o que indica que embora portadora da bactéria, ela não apresenta sintomas da doença.

A importância de estudos como este

Sellers destacou que investigações desse tipo são raras, mas absolutamente necessárias para entender a vida selvagem e a influência das bactérias resistentes. “Deveriam ser rotina, mas atualmente ocorrem mais por interesse científico do que por uma prática institucional”, afirmou. A necessidade de um maior envolvimento institucional na pesquisa e monitoramento da fauna é um ponto que ele considera crucial para a saúde ambiental.

Contaminação e adaptação bacteriana

Um dos principais desafios do estudo é a questão da origem da contaminação. Até o momento, não há confirmação sobre como as aves foram expostas às bactérias super-resistentes. A hipótese mais levada em conta é que esses animais já viviam em ambientes em que a resistência bacteriana está disseminada.

Sellera explicou que se trata de uma adaptação das bactérias que, anteriormente restritas a humanos, agora encontram-se também em animais. “Eu começo a ter nos animais selvagens bactérias com perfil de resistência semelhante aos encontrados em ambientes hospitalares humanos”, disse o pesquisador, que, apesar das preocupações, enfatizou que não há motivo para pânico imediato.

Por fim, a pesquisa foi coautora dos alunos Bruna Garcia e Matheus Silva, com supervisão do professor Sellera e colaboração de Guilherme Paiva, do ICB da USP, sob a direção do professor Nilton Lincopan. A iniciativa, embora traga à tona um problema grave, também ilumina a importância de compreender as dinâmicas da saúde animal e ambiental no contexto atual.

É vital, portanto, que haja um esforço contínuo para monitorar e estudar a saúde das aves e outros animais silvestres, pois eles podem ser indicadores cruciais das condições de saúde pública e ambiental que nos afetam, indiretamente, diariamente.

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